Renda de um ano em um mês: bebida que conquistou Juliette é sustento de família
'Bom Que Dói' é o drinque mais famoso do São João de Campina Grande (PB); saiba mais
O sorriso e a criatividade são os principais aliados de Francilda dos Santos Silva, mais conhecida como 'Fia', e seu marido Edmilson Santiago. Todos os anos, durante o São João de Campina Grande (Paraíba), os ambulantes transformam seu quiosque no Parque do Povo em um ponto de encontro para centenas de pessoas sedentas por uma bebida inusitada chamada 'Bom Que Dói'.
O drinque, que foi batizado pelo nome de 'Bom Que Dói' pela falecida avó de Fia, Alzira, transformou a vida da família, que, durante o período junino trabalha em conjunto: Fia e Edmilson na preparação e a filha do casal, Érika, nas redes sociais.
O sucesso do 'Bom Que Dói' é tão grande, que, segundo o casal, a renda feita nos dias (cerca de 1 mês) de festa no Parque do Povo, supera todo o restante do ano trabalhado. A receita é guardada a sete chaves, mas os ingredientes estão à mostra para todos verem: carisma e acolhimento não faltam no quiosque, que, ao longo de uma noite de festa, recebe populares e personalidades influentes não só de Campina Grande, mas de todo o Brasil.
"O que a gente tem hoje foi por conta do 'Bom Que Dói'. A gente inventou essa bebida. A avó dela que faleceu, dona Alzira, provava nossas cachaças. Eu disse: prove aqui e ela reagiu. Disse: 'É bom, mas dói, viu?'. A gente riu e chegou a um consenso de nome: ’Bom Que Dói. E ficou até hoje", conta Edmilson.
Além do nome criativo, o marketing do 'Bom Que Dói' passou pela construção de uma relação carinhosa de Fia com os clientes, que deixaram de ser meros consumidores e criaram memória afetiva com o local. O resultado foi: ajuda de populares, com o famoso boca a boca, chamando a atenção de personalidades influentes e jornalistas.
Uma das fãs da bebida, a cantora Juliette falou sobre o 'Bom Que Dói' nas suas redes sociais e ajudou na divulgação da marca de forma espontânea. Nomes como Whindersson Nunes, Patrícia Poeta e Juliana Oliveira também já passaram pelo local para conferir. Afinal, que bebida é essa que é tão boa que dói?
"Eu só agradeço. A todos vocês, os clientes da gente, a imprensa. As amigas dela (Juliette) compraram bastante, levaram e os convidados gostaram muito. Vale sim (um ano em um mês), é meu décimo terceiro", afirmou Fia.
Persistência e superação
Sucesso hoje no Maior São João do Mundo, em Campina Grande, Fia e Edmilson, assim como a maioria dos brasileiros, tiveram uma história de dificuldades e superação no início da trajetória como empreendedores no Parque do Povo. Tudo começou há mais de três décadas, mais exatamente há 31 anos, quando Edmilson perdeu seu emprego e o casal viu na venda ambulante uma oportunidade de driblar as adversidades e sobreviver vendendo bebidas.
"Teve um corte, colocaram mais de 200 pessoas e eu estava no meio. Foi justamente na época que minha filha Edna estava de leito. Eu disse, e agora hein?! Fia disse vamos para o Parque do Povo, a gente inventa qualquer coisa", conta Edmilson.
Com uma estrutura improvisada - uma lona e um balde de 20 litros - eles começaram a comercializar uma bebida também de nome inusitado, chamada de 'Xixi de Anjo'. Na época, sem autorização da Prefeitura de Campina Grande, Fia e Edmilson enfrentavam dificuldades para vender o drinque e chegaram a ser expulsos da festa.
"A gente trabalhava na pirâmide, empurrando um carrinho. Eles não permitiam que a gente trabalhasse na área de show mesmo. Mas a gente dava um 'arrodeio' nos seguranças. Expulsaram a gente por cima, a gente vinha por baixo. E aí gente foi ficando", lembra o vendedor.
Precisando cuidar da filha e ao mesmo tempo sustentar a família, Edmilson e Fia levavam a filha menor para o trabalho. Hoje, com 28 anos, Erika é grata aos pais pelo esforço e ajuda na divulgação, cuidando das redes sociais do 'Bom Que Dói'’.
"É muito tempo. A gente já passou por muita coisa aqui nesse Parque do Povo. A gente trazia ela (Erika) para o quiosque, ela dormia dentro do quiosque com a gente trabalhando. Nosso objetivo no começo era levar o leite para casa. Depois deixaram a gente colocar uma barraca, a gente colocou uma lona por cima de uma estrutura de metal, depois pegamos um quiosque de madeira", lembra.
A vida e os percalços
Ao longo dos 31 anos de São João, Fia e Edmilson tiveram que se despedir de entes queridos, como a mãe e avó do ambulante. No ano de 2023, o casal sofreu outro susto. Por conta de um fragmento de osso alojado no sistema esofágico, Edmilson precisou passar por uma cirurgia delicada e chegou a ficar mais de um entubado em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
"Fui para o Hospital de Trauma às pressas para tirar o osso. Passei um mês e 20 dias entubado. Fiz três cirurgias de pescoço, uma de pulmão e uma de coração. Deus colocou a mão e hoje estou aqui. Hoje, ela (Fia) não tem a mãe nem a avó dela, mas eu creio que onde elas estiverem estão orando pela gente. Tem que ter muita fé", afirma.
Vitória do empreendedorismo
Com o sucesso de vendas no São João de Campina Grande, Fia e Edmilson conseguiram abrir o seu próprio estabelecimento físico fora do Parque do Povo, o 'Bom Que Dói Espetos'.
O local está temporariamente fechado por conta do funcionamento do quiosque dentro da festa no Quartel General do Forró, mas será reaberto. A previsão é julho.
"Depois do São João a gente vai abrir se Deus quiser", comemora Fia.