Terraiá reúne tradição, romance, diversidade, arrasta-pé e memórias afetivas
Comidas típicas, roupas coloridas, forró, famílias, amigos: público se reúne no MAM para festejar São João
Em frente à praia do Solar do Unhão, as botas, tão tradicionais nos festejos juninos, dão lugar às sandálias e sapatos baixos. O xadrez está liberado, claro, mas nada muito pesado, afinal, é São João em Salvador, onde o tropical encontra a tradição do licor, dos vestidos coloridos, das bandeirolas, do dançar agarradinho até as performances mais elaboradas de forró. Esse era o clima no Terraiá, que animou mais de 2 mil pessoas, no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM), neste domingo, 23.
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O Terraiá é o São João oficial do Terra, patrocínio master de Amazon e com cobertura patrocinada por Kwai, Loterias CAIXA, Garnier e Azulzinha, maquininha da CAIXA.
O local escolhido para o evento é simbólico para a maioria dos soteropolitanos, que, com certeza, tem alguma história para contar que envolve o espaço. Afinal, ali estão duas praias famosas - 'Prainha do MAM' e a Gamboa de Baixo -, tem também o tradicional festival de jazz no local, exposições, cinema e o pôr do sol no mar da Baía de Todos-os-Santos.
Foi justamente no MAM que Chico César fez sua primeira apresentação na capital baiana, com o álbum ‘Aos Vivos’. “Ninguém me conhecia e foi a partir daí que minha relação de afeto com Salvador começou”, relembra o músico.
Mariana Aydar, paulista, mas com forte vínculo com o Nordeste, também nutre uma paixão. "Aproveitei que a passagem de som estava atrasada e fui dar um mergulho aqui na praia. O MAM é um lugar de muita cultura e estou muito feliz de estar aqui, em Salvador, a cidade que eu mais amo no mundo. Com Chico César, um parceiro que a vida me deu", comemora.
As bandas locais que abriram o evento, Forró da Gota e Coletivo Carcará, também festejaram suas primeiras apresentações em um espaço tão importante para a cultura baiana.
“O MAM faz parte da identidade de quase todo soteropolitano (a). O São João é uma festa muito importante para gente e é primeira vez que estamos tocando na nossa cidade durante esse período”, festeja Thiago Kalu, músico do Forró da Gota.
Tradição, comida e inclusão
Além das memórias afetivas, a valorização da musicalidade nordestina, a cultura popular e a diversidade predominaram o esquenta de São João - comemorado no próximo dia 24 de junho, data do nascimento do profeta João Batista. Em clima de romance, os casais aproveitaram os shows para mostrar todo o gingado no forró. A jornalista Fernanda Souza fez algumas aulas com o companheiro, o engenheiro Áureo Ramos, para não fazer feio no arrasta-pé.
"Aprendemos juntos a dançar forró. Fizemos aulas com uma turma e fomos aprendendo", conta.
E como "saco parado não fica em pé", o público pode apreciar e se deliciar com as iguarias típicas do São João na Praça de Alimentação do Terraiá. A curadoria do cardápio feita pelo afrochef Ronaldo de Assis incluiu as tradicionais comidas à base de milho e amendoim, como canjica, bolo, mingau, mungunzá, entre outros.
Além disso, o licor também foi o ponto alto da festa, com diversos sabores ofertados ao público. Como o clássico de jenipapo.
Em meio ao clima festivo e inclusivo do Terraiá, o público celebrou o momento de fortalecimento dos encontros e amílias reafirmaram a tradição e a força cultural presente no São João aos pequenos.
O casal Veruska Souto e Tiago Prudente levaram o Rauê, de 7 anos, para curtir o forró de perto e sentir o calor da festa. Com direito à camisa xadrez em diversas cores, o casal destaca a importância dos festejos para a família.
"O meu pai é de Poções, cidade do interior da Bahia. E o São João é bem forte lá e a gente valoriza muito como cultura popular", reitera Tiago ao relembrar que viveu a festa desde a infância.
A baiana Amanda Novais também apresentou o Terraiá para a filha, Mia, de 2 anos e 9 meses. Segundo ela, a festa é tão querida pela família que ela escolheu um vestido especial para a pequena usar na ocasião. Com um vestido xadrez e babados, Mia já se mostrou enturmada na comemoração.
"Sempre gostei muito porque o São João acaba sendo um momento de reunião da família. E aí eu quero levar essa tradição para ela também. Se vestir, de ir para escolinha vestidinha com a roupa junina, de conhecer as comidas típicas. Enfim, quero levar adiante a tradição", destaca.
Acompanhado dos amigos, o gerente de experiência, Wallace Barbosa compartilha do mesmo sentimento que Amanda.
"Na verdade, eu sempre gostei muito mais do São João do que do Carnaval. Sou apaixonado pelas festas, pelo licor, pelos encontros. E como Salvador, por muito tempo, foi a capital do Nordeste, eu acho que foi a melhor coisa essa festa acontecer aqui", festeja.
Já a psicanalista Isabel Almeida conta que a relação com o São João começou ainda na infância, principalmente na época da escola. Natural de Salvador, ela não só curte o forró, mas também o samba junino-- que é uma manifestação cultural surgida na década de 1970 e também presente nesse período.
"O meu São João foi sempre na capital, porque a minha família é daqui. Mas a minha memória, quando eu puxo, vem o período escolar. A escola foi o primeiro lugar de introdução dos festejos juninos. E aí, à medida que eu fui crescendo, foi que eu fui ampliando o espaço e essa relação com a questão das festejos juninos."