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Conheça a história de resistência negra nas ruas de Salvador

Projeto Salvador Escravista cataloga monumentos, homenagens e menções em locais públicos que rememoram a história de negros escravizados

13 mar 2023 - 05h00
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Salvador, capital da Bahia, reserva história de luta anti escravista
Salvador, capital da Bahia, reserva história de luta anti escravista
Foto: Nikada/Divulgação

Se você buscar no Google “pontos turísticos de Salvador”, terá, em milésimos de segundos, uma lista grande de lugares populares e bem avaliados para visitar na capital da Bahia. O que o mecanismo de busca não te conta logo de cara é que Salvador reserva dezenas de monumentos históricos, símbolos, e homenagens a figuras fundamentais do movimento anti escravista. Vale lembrar que Salvador foi o segundo maior porto de desembarque de africanos nas Américas durante a vigência do comércio transatlântico de pessoas escravizadas, segundo o  professor de história da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), Carlos Sílva Júnior, um dos idealizadores projeto “Salvador Escravista”. Estima-se que mais de 1,5 milhão de africanos tenham sido retirados à força de seus países e desembarcado no Estado. 

Conheça alguns pontos de memória da cidade:

Herma em homenagem a Luiz Gama, no Largo do Tanque em Salvador
Herma em homenagem a Luiz Gama, no Largo do Tanque em Salvador
Foto: Silvio Humberto/Divulgação

*Herma em Homenagem à Luiz Gama

Segundo a historiadora da UEFS, Elciene Azevedo, Luiz Gonzaga Pinto da Gama, ou simplesmente Luiz Gama, como ficou mais conhecido, “foi um dos grandes advogados do Brasil oitocentista, militante do movimento pela abolição da escravidão e da Monarquia no país. Ex-escravo e auto didata, se fez notar no universo dos homens de letras de São Paulo do século XIX, ao publicar livro de poesias e escrever em jornais que fundou ao lado de estudantes da Academia de Direito, ou nas folhas de grande prestígio da capital da província e da corte. Maçon e antimonarquista, esteve presente na fundação do Partido Republicano Paulista reforçando sua ala mais jacobina, e tornou-se figura pública das mais proeminentes de seu tempo”. Nasceu em Salvador, Bahia, em um sobrado da rua do Bângala, perto do adro da Palma, em 21 de julho de 1830. Ainda segundo a historiadora, Gama foi vítima de tráfico interprovincial, sendo escravizado na cidade de São Paulo. “Aos 17 anos, depois de alfabetizar-se com as lições de um hóspede da casa de seu senhor e conseguir provas de sua escravização ilegal, encontra os caminhos da liberdade entre o funcionalismo público e o exercício da advocacia.”

Monumento em homenagem a Mãe Gilda de Ogum, que morreu após ataques de intolerância religiosa
Monumento em homenagem a Mãe Gilda de Ogum, que morreu após ataques de intolerância religiosa
Foto: Prefeitura de Salvador/ Divulgação

*Busto de Mãe Gilda de Ogum

Busto de Gildásia dos Santos, a Mãe Gilda, foi inaugurado em 28 de novembro de 2014, no Largo do Abataé.  A ialorixá tornou-se símbolo de resistência das religiões de matriz africanas após ter o seu terreiro invadido e depredado por pessoas de outra religião. Ela também foi vítima de intolerância religiosa o que resultou no agravamento de sua saúde e sua morte.  O Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa foi instituído, pelo presidente Lula, em 2007, em memória da Ialorixá.

*Rua Revolta dos Malês

No bairro da Liberdade, uma rua homenageia o levante do povo escravizado. "Na noite do dia 24 para 25 de janeiro de 1835, um grupo de africanos escravizados e libertos se rebelou, ocupou as ruas de Salvador e durante mais de três horas enfrentou soldados e civis armados. Embora tenha durado pouco tempo, foi o levante escravo urbano mais sério ocorrido nas Américas e teve efeitos duradouros para o conjunto do Brasil escravista", explica o historiador  João José Reis, da Universidade Federal da Bahia.

*Monumento Mãe Runhó

Segundo a Fundação Gregório de Matos,a escultura é uma homenagem a Maria Valentina dos Anjos Costa, Doné Runhó ou Mãe Runhó. Doné do Terreiro de Bogum e filha de escravos. Assumiu a direção do terreiro em 1925, onde permaneceu por 50 anos, até a sua morte. 

*Conjuração Baiana

Quatro bustos estão localizados na Praça da Piedade. Conjuração Baiana ou Revolta dos Alfaiates foi um movimento político de Salvador com o objetivo de separar a Bahia de Portugal. Este monumento homenageia os alfaiates João de Deus Nascimento e Manuel Faustino dos Santos Lira, principais líderes do movimento, e os soldados Luiz Gonzaga das Virgens e Veiga e Lucas Dantas de Amorim Torres. Eles foram  enforcados e esquartejados em praça pública, acusados de conspiração contra a Coroa de Portugal.

Colina Sagrada, em Bonfim, Salvador, foi espaço para leilão de escravizados  percorrido durante revolta dos Malês
Colina Sagrada, em Bonfim, Salvador, foi espaço para leilão de escravizados percorrido durante revolta dos Malês
Foto: Igor Santos/Secom

Projeto Salvador Escravista

O projeto Salvador Escravista é colaborativo e conta com o trabalho de dezenas historiadores de seis universidades públicas brasileiras. O objetivo é repensar as memórias da população negra em Salvador. Os pontos e marcos históricos são divididos em três categorias: homenagens controvérsias (nome de logradouros, estátuas e outros que homenageiam pessoas ligadas direta ou indiretamente no tráfico de pessoas escravizadas), homenagens reparadoras (pontos que homenageiam figuras de resistência ou fatos históricos) e por fim lugares esquecidos (locais onde não são divulgadas a história de escravismo). 

“Pensamos em desenvolver um projeto em que fosse possível todas as pessoas consultarem o que vivemos e vimos em Salvador. Temos um exemplo clássico que é o bairro do Comércio. Nós andamos na Festa do Bonfim, da Conceição da Praia até a Colina Sagrada e nem sempre sabemos a importância desse caminho para o tráfico de  pessoas escravizadas. Era ali o grande mercado de compra e venda de pessoas escravizadas a céu aberto. É também ali que começa o caminho da Revolta dos Malês. Não conhecemos porque não há marcadores. Então queremos que o projeto fomente políticas públicas que demarquem esses locais”, disse o historiador Cândido Domingues (UNEB).

Fonte: Redação Nós
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