Durante uma Olimpíada, as atenções do público e da mídia estão voltadas, quase que em sua totalidade, a ginásios, estádios e piscinas, tradicionais arenas de competições esportivas. No entanto, há um local onde muita coisa acontece, mas poucos ficam sabendo, devido ao rígido controle de acesso, restrito apenas a atletas e dirigentes das delegações: a Vila Olímpica.
Dentro do complexo residencial, que em Sydney vai receber mais de 10 mil atletas, funciona uma verdadeira cidade, palco, senão das maiores conquistas, certamente das maiores curiosidades. Histórias envolvendo romances, brigas, antipatias e tietagem também fazem parte desse universo poliesportivo e policultural. As delegações brasileiras que lá estiveram não são exceção à regra e trouxeram na bagagem muita coisa para contar.
Na realidade, o comportamento dos atletas que disputam uma Olimpíada e ficam alojados na Vila é parecido com aquele adotado por jovens que, no último ano do segundo grau ou da faculdade, viajam em grupo para um local distante.
Os sentimentos de liberdade - resultado da distância - e curiosidade, motivado pelo contato com pessoas de diferentes partes do mundo, são, na maioria das vezes, responsáveis por essas histórias.
Lembranças como as do ex-jogador de vôlei Renan, que após um treino durante os Jogos de 1980, em Moscou, atrasou-se e teve de voltar para a Vila em um caminhão do exército russo repleto de soldados e armamento pesado. "Passei um apuro danado para explicar a eles o que tinha acontecido", afirmou, ressaltando que não fala uma única palavra em russo.
Já a ex-jogadora de basquete Hortência provou que seu bom desempenho não era restrito apenas às quadras e venceu um torneio interno de boliche em Barcelona, em 1992. A bola, apesar do peso, voltou na mala.
Compromisso - Apesar de todas as "tentações" que a Vila pode trazer, muitos competidores que chegam a uma Olimpíada possuem objetivos sérios, sejam eles pessoais ou profissionais. A maioria dedicou alguns anos de suas vidas a treinamentos intensos, abrindo mão do convívio familiar e social, apenas para estar ali.
Outros, mais afortunados, trazem consigo patrocinadores fortes que, por menor que seja o investimento, exigem retorno, o que só é conseguido com bons resultados.
Alguns dados oficiais sobre as instalações em Sydney comprovam que até mesmo a organização dos Jogos já sabe que, ali dentro, o esporte não é assunto único. A Vila possui uma estrutura completa de entretenimento, com salões de jogos, salão de beleza, fliperamas, cinema e até uma boate.
Para divertimento e proteção, 100 mil preservativos serão distribuídos durante os 20 dias de competições. "Me lembro que em 1984 (Los Angeles) engordei uns 4 quilos", contou a meio-de-rede da seleção feminina de vôlei Ida. "Como era reserva e minhas chances de jogar eram pequenas, não resisti aos chocolates e refrigerantes, todos de graça".
O Estado de S.Paulo