Paris - A Comissão Européia está disposta a adotar uma decisão que vai revolucionar o futebol profissional , impondo o fim do sistema atual de transferências de jogadores. Isso porque a direção de concorrência, conhecida como "DG4", considera que a forma atual das transações atinge os princípios da livre concorrência e circulação, previstos no Tratado de Versalhes. Os comissários europeus em Bruxelas pretendem aplicar , pura e simplesmente, o direito nacional em caso de ruptura de contrato de trabalho com duração determinada. A medida poderá ser tão drástica que a direção da FIFA decidiu convocar para amanhã, em Zurique, uma reunião extraordinária para analisar essa possível evolução que , a seu ver, provocaria um verdadeiro caos. Segundo seu presidente, Sepp Blatter, se essa diretiva for confirmada será "toda a organização piramidal do futebol que arcaria com as conseqüências de tal projeto".
Blatter faltou ao encontro que teria hoje com o presidente da França, Jacques Chirac, no Palácio do Eliseu, em Paris, para discutir o tema mas foi impossibilitado de comparecer por causa de uma forte gripe.
Dessa forma, para contratar um jogador bastaria que um clube pagasse a quantia correspondente aos salários que o jogador, sob contrato, ainda deve a seu clube empregador. Nesse caso, o jogador Anelka, contratado pelo Paris Saint Germain junto ao Real Madrid por US$ 30 milhões poderia ser contratado, no final da temporada atual por qualquer outro clube por apenas 10 milhões de dólares, desde que aplicado o novo cálculo de um contrato de trabalho com duração determinada.
Hoje, a Comissão Européia estima que as indenizações pagas pelos clubes para recrutar jogadores constituem entraves às regras da livre circulação dos trabalhadores. Outra crítica da comissão de concorrência contra os dirigentes é que em muitos casos, o principal interessado, no caso o atleta , não é sequer consultado. Isso foi o que aconteceu com o atacante Wiltord , transferido do Bordeaux para o Arsenal, depois de longas negociações entre os dois clubes que não chegavam a um acordo, prejudicando o jogador que não teve direito a palavra.
O objetivo da Comissão Européia é o de obter, até o fim do ano, a liberalização das transferências dos jogadores em toda a área da União Européia. Desde 1998 , a comissão de concorrência , quando dirigida pelo belga Karol Van Miert, já havia advertido a direção da FIFA, explicando que o sistema de transferências constituia um entrave a aplicação do Tratado de Roma. Na época, os emissários da Fifa prometeram estudar uma solução, mas apenas ganharam tempo, irritando o novo comissário europeu, o italiano Mario Monti, responsável pela nova ofensiva. Se um acordo não for concluído nos próximos meses , a Comissão ameaça proibir as famosas "indenizações de transferências" que chocam por seus valores exorbitantes.
O caso do jogador Figo , transferido do Barcelona para o Real Madrid por US$ 58 milhões tem sido citado em Bruxelas. Figo tinha ainda três anos de contrato com o Barça e deveria receber US$ 1 milhão por ano aproximadamente, portanto US$ 3 milhões até o fim do contrato. Essa enorme diferença é que o legislador europeu pretende corrigir, acreditando que a aplicação do direito nacional seria a melhor solução. Entre as numerosas conseqüências dessa iniciativa cita-se uma menor influência do dinheiro no futebol, enquanto os empresários, cuja atuação nem sempre é transparente nessas transferências, veriam o valor de suas enormes comissões degringolar.