Sydney - O hipismo olímpico está sob a quarentena mais rigorosa da história. As autoridades veterinárias estão preocupadas até com a poeira nas botas dos cavaleiros. As equipes que vão competir nos Jogos de Sydney vivem, há pelo menos duas semanas, sob um rígido sistema de regras que não permite nem mesmo que um tratador possa levar para fora do Horsley Park as roupas que usou enquanto trabalhava com os animais.
O veterinário da equipe do Concurso Completo de Equitação (CCE), Cyro Rivaldo Filho, explica que a preocupação das autoridades australianas é evitar que os animais transmitam doenças que ainda não existem no país. "A quarentena, que geralmente é de duas semanas na maioria das competições, vai até o dia 8 de setembro e, de forma mais branda, será mantida até as competições", afirma.
O veterinário explica que entre as principais doenças de cavalos não existentes na Austrália está a influenza, uma espécie de febre eqüina causada por vírus, o epizootia, derivado de uma bactéria que provoca tosse no animal, e a piroplasmose, provocada por um protozoário que destrói as hemácias do cavalo e causa anemia. "A piroplasmose é muito temida porque o tratamento é difícil e demorado." Segundo ele, existe uma separação entre os cavalos dos países onde o problema existe, caso do Brasil, e onde o mesmo não foi registrado.
Cyro explica que, para evitar contágio, botas e todos os equipamentos de montaria são controlados, pois até mesmo a poeira contida no material pode levar os microrganismos transmissores das doenças. Os cavalos são avaliados pelo menos duas vezes por dia. Como a febre é o primeiro sintoma da doença, a temperatura é checada de manhã e à tarde, logo depois que os cavalos são alimentados. Se algum dos animais apresentar qualquer problema, será isolado. Se for constatada a doença, não poderá participar da competição.
Segundo o veterinário, todas as montarias da delegação brasileira, inclusive as da equipe de salto e adestramento, estão em bom estado, já recuperadas do estresse da longa viagem entre a Inglaterra - local da primeira fase, de 15 dias, da quarentena - e a Austrália, prontos para os treinamentos com os cavaleiros, que chegaram a Sydney na manhã de domingo.
Contraste - Cyro afirma que o rigor da quarentena contrasta com a liberdade para trabalhar que a equipe brasileira está encontrando no Horsley Park. "Contamos com as melhores condições para realizar nossa preparação."
Entre os cavaleiros, a preocupação é trabalhar corretamente com os cavalos.
"Eles ficaram muito tempo em um ritmo de treinamento leve e agora temos de aumentar a intensidade aos poucos", disse Álvaro Affonso de Miranda Neto.
Carlos Eduardo Paro, do CCE, afirma que as condições dos cavalos determinarão o que fazer nos treinos até a estréia do Brasil, prevista para o dia 16.
O mesmo acontecerá com Jorge Ferreira da Rocha, do adestramento. "Vou aproveitar o tempo para treinar e analisar fitas das competições mais recentes na Europa."
O Estado de S.Paulo