Porto Alegre - O nó começou a ser atado na final do Mundial de 1994, em São Paulo. Cuba e Brasil decidiram o ouro em uma disputa na qual a superioridade cubana não teve contestação. O problema foi os inúmeros “salta, chica, salta” com que as cubanas responderam às tentativas das brasileiras de bloqueá-las. Nem Ana Moser teve forças para reagir tal o nível de desconsolo.
Érika Coimbra, considerada como a sucessora de Ana Moser, reforça a tese da catarinense de que as cubanas usam tática de guerrilha. Mas só provocam quando estão perdendo.
“Não podemos entrar no jogo delas”, disse Érika, 20 anos, a segunda maior pontuadora e a melhor sacadora do Grand Prix.
A mineira diz, cheia de orgulho, que nunca perdeu para as atuais campeãs olímpicas e mundiais. Nunca perdeu jogando, ela própria emenda. É que nas derrotas do Mundial, em 1998, e da Copa do Mundo, em 1999, Érika, mesmo ainda juvenil, era reserva de Ana Moser. Quando as enfrentou, em uma partida inteira, no Pan-Americano de Winnipeg, em 1999, teve o gostinho de vencê-las.
Apesar da pouca experiência, Érika tem um jeito curioso de antecipar como as rivais vão atuar. É só olhar se estão gordas. Em geral, quando o assunto é atletas de alto nível, supõem-se que há maiores possibilidades de jogarem mal se estiverem roliças. Errado.
“Quanto mais gordas estiverem, maior será a porrada que vão dar na bola”, falou Érika, rindo. “Se estiverem fininhas, melhor para nós.”
Com a ausência de Virna, a principal atacante do Brasil, Érika –66 quilos para 1m80– assumiu o posto de cabeça da equipe no GP. Jogou nas três derrotas do time para a Rússia. Calma, garantiu que não existe bloqueio nenhum. Para ela, é mais fácil enfrentar as russas do que as chinesas (que as brasileiras derrotaram na briga pelo bronze do GP): “O jogo delas não é difícil de marcar. Só que são muito altas. Já as chinesas defendem demais e exigem concentração para marcá-las.”
Se é assim, por que a seleção não ganhou de Chachkova, Tichtchenko e suas companheiras? A justificativa de Érika está na juventude e na inexperiência da maior parte do grupo, que se sentiu pressionado e cedeu as vitórias. “Começamos a bater para fora e a errar saques”, disse a atacante.
Com esperteza, Érika tem convicção de que é possível driblar a altura das russas – uma delas, Ekaterina Gamova, 19 anos, chegou a 2m6cm. A mesma inteligência é imprescindível para superar as cubanas, embora Érika as qualifique como impressionantes. “Mas não é impossível derrotá-las”, falou a atacante.
Ana Moser acrescenta outros três pré-requisitos para acabar com a festa de Regla Bell: criatividade, aplicação tática e garra. Ao contrário de Helga Sasso, que aposta no Brasil para brigar pelo ouro em Sydney, Ana, daquele seu jeito seguro de defender uma opinião, afirma que, na corrida ao pódio olímpico, Cuba e Rússia esperam os adversários plantadas um degrau acima: “O Brasil está abaixo e depois vem o resto, China, Itália, Coréia do Sul e Croácia.” A torcida é para que, desta vez, Ana esteja errada.
Zero Hora