Sydney - A cada Olimpíada que passa aumentam as possibilidades de o "Dream Team" (time dos sonhos), seleção de basquete masculina dos Estados Unidos, sofrer a sua primeira derrota. Torcida não falta. E o comportamento dos jogadores selecionados pela NBA, a liga de basquete profissional norte-americana, só alimenta o mau humor que a comunidade olímpica nutre por sua superioridade.
Os dois principais jornais de Sydney, The Australian e The Sydney Morning Herald, trazem na primeira página da edição de segunda-feira um exemplo típico da propaganda negativa contra a seleção dos sonhos da NBA. Trata-se de uma foto do pivô do Miami Heat, Alonzo Mourning, 2m06, gritando com a juíza Carolyn Gillespie, 1m70 por causa de uma falta apitada contra ele.
Gillespie tinha apitado um amistoso das seleções femininas dos dois países antes do jogo-treino dos homens. Foi obrigada a fazer uma rodada dupla porque o árbitro encarregado do jogo do "Dream Team" deslocou o ombro nos primeiros minutos da partida e, mesmo fazendo um favor, teve que aturar a agressividade dos ídolos norte-americanos.
"Eu estava pronta para tomar uma bebida quando vi o juiz se machucando e percebi que ainda iria trabalhar", disse ela ao The Australian. "Sou muito ruim para guardar o nome dos jogadores. Para mim, ele foi apenas outro cara que não ficou contente com uma decisão", afirmou ao jornal, que só para enfatizar a absurda reação de Mourning lembrou do salário de ambos.
A juíza ganha 240 dólares australianos, (cerca de R$ 250) por partida. Mourning receberá um total de R$ 220 milhões por um contrato de cinco anos com o Miami Heat.
Antes do incidente com a juíza, o "Dream Team" já tinha feito um papelão quando Vince Carter saiu no tapa com um jogador australiano no primeiro amistoso que as equipes fizeram na sexta-feira.
Desde que chegou em terras australianas, a seleção ainda invicta da NBA vem sendo tratada como um grupo de inimigos públicos, aura que o time começou a construir no jogo de estréia, em Barcelona, assim que "Sir" Charles Barkley acertou uma cotovelada gratuita, fora de uma disputa de bola, em um jogador da equipe de Angola.
Além da má fama, os jogadores dos EUA foram recebidos em Sydney com a tese, publicada pelo The Australian, de que este é o pior "Dream Team" de todos os tempos. Quem torceu por Michael Jordan, Magic Johnson e Larry Bird em Barcelona, agora tem que aturar Alonzo Mourning, Kevin Garnet e Gary Payton, atletas que só são considerados estrelas pelo público fanático da NBA.
Os jogadores receberam a reportagem publicada pelo jornal local no aeroporto e no primeiro encontro que tiveram com o jornalista responsável, Cameron Stewart, partiram para o ataque. "Li sua reportagem. Ficou uma porcaria. Jornalistas só escrevem porcarias", disseram Payton e Garnett ao repórter do The Australian, mostrando a todos os colegas quem tinha ousado criticá-los.
A maré de problemas do "Dream Team" chegou ao auge na segunda-feira, quando a equipe foi impedida de deixar o hotel que está hospedada em Melbourne. O local foi cercado por mais de 1.500 manifestantes que protestavam contra a globalização frente ao Fórum Econômico Mundial da Ásia e do Pacífico.
Os atletas da equipe mais cara das Olimpíadas foram obrigados a fazer alongamento no cassino do hotel e passar o resto do dia assistindo vídeos com jogos de seus adversários.