Canberra - O ciclista Murilo Fischer não se conforma em ser o único atleta brasileiro classificado para a prova masculina de estrada da Olimpíada de Sydney. Para ele, a única explicação para o fato é a falta de competência dos dirigentes da Confederação Brasileira de Ciclismo (CBC), que não souberam aproveitar o apoio dado pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB) a todos os esportes.
"O presidente do COB, Carlos Nuzman, garantiu que nenhum atleta ficaria sem o treinamento necessário para a Olimpíada por falta de dinheiro", lembrou Fischer, de 21 anos, da Caloi. "Nós não tivemos nenhum apoio e na única competição feita no exterior, na Colômbia, ficamos num hotel sem água quente", prosseguiu. "Depois não querem que reclame”.
O grande sonho do atleta catarinense é seguir o caminho de Luciano Pagliarini, que se tornou profissional na Itália. "O ciclismo alcançou um nível tão forte que ou se compete no exterior, ou fica muito difícil enfrentar os principais atletas em igualdade de condições", comentou. "E isso só vai ocorrer se mudar a organização do esporte”.
Décimo colocado na prova do quilômetro contra o relógio do Pan-Americano, Fischer espera, com "bastante otimismo", terminar entre os 20 primeiros colocados na competição, que terá 240 quilômetros e está marcada para o dia 27. Ele lembra que terá vários ciclistas profissionais como adversários, todos com uma grande infra-estrutura própria. "É a mesma coisa que pôr, lado a lado, uma Ferrari e um Fusca", comparou. "Os profissionais como o italiano Marco Pantani têm mecânicos, massagistas e assistentes exclusivos."
O ciclismo profissional, segundo o atleta (que tem como principal título a conquista da Volta Internacional do Peru, em 1998), é tão desenvolvido e competitivo que está à frente de outras modalidades até em pontos negativos como o doping. "A eritropoietina, a substância proibida que está sendo testada agora, é usada no esporte há mais de 20 anos", disse. "A droga, infelizmente, é comum”. Ele cita como exemplo as dificuldades encontradas numa competição como a Volta da França, disputada em 23 dias por percursos extremamente difíceis. "Você aceita a existência de um fenômeno, que consiga superar todos os obstáculos sem recorrer ao doping", observou. "Mas 200 atletas fenômenos não existem numa prova", continuou. "Eles têm de tomar alguma coisa para agüentar o esforço”.
Além de Murilo Fischer, duas ciclistas estão inscritas na prova de estrada: Cláudia Carceroni, que mora e compete na França, e Janildes Silva, ganhadora da medalha de bronze nos Jogos Pan-Americanos de Winnipeg.