Sydney - Esta não é uma Olimpíada de grandes duelos. As "brigas" deram lugar a mais equilíbrio, a mais personagens com chance de medalha, justamente pelo maior acesso a informações e intercâmbio dos atletas de hoje de vários países, totalmente profissionalizados. O falatório cedeu espaço para o "politicamente correto".
Ainda assim, na hora da disputa sempre acabam sobrando pelo menos algumas boas provocações. Aqui em Sydney devem ecoar pelo Aquatic Centre, onde a rivalidade entre Austrália e Estados Unidos estará acirrada.
No geral, ninguém duvida que Estados Unidos levem o primeiro lugar no quadro de medalhas olímpico -em Atlanta/96, os norte-americanos conseguiram 44 medalhas de ouro, 32 de prata e 25 de bronze, contra 26, 21 e 16, respectivamente, da Rússia. A Alemanha ficou em terceiro lugar, com 20 medalhas de ouro contra 16 da China (é pelo ouro que a contagem é feita), 18 de prata contra 22, 27 de bronze contra 12. Os chineses, depois da debandada de quase 30 atletas por causa de doping, antes mesmo do desembarque, podem perder essa disputa pelo terceiro lugar no quadro de medalhas.
E, pelo quinto lugar, a disputa deverá ser entre França e Austrália, de acordo com previsão do próprio presidente do Comitê Olímpico Australiano - John Coates. Na última Olimpíada, a França arrecadou 15 de ouro (uma a menos que a China), sete de prata e 15 de bronze, terminando em quinto lugar. A Itália ficou em sexto, com 13, 10 e 12. A Austrália havia ficado em sétimo, com nove, nove e 23. São esses dois degraus que o país quer subir, depois de oito anos de investimento mais massivo em esporte.
O Brasil havia ficado em 25º lugar, com três medalhas de ouro, três de prata e nove de bronze. E as previsões são de que permaneça com número semelhante: a vela perdeu Lars Grael para a competição onde seria candidato a medalha, o basquete feminino e o vôlei masculino passam por fases de transição, a natação enfrentará a força australiana, além da norte-americana. Como compensação, vêm Rodrigo Pessoa como favorito para o hipismo, Gustavo Kuerten para o tênis, o futebol, que pode levar medalhas no feminino e no masculino - onde aparece como favorito.
Em Sydney, o bate-boca que ajudava a animar a rivalidade entre as equipes de natação de Austrália e Estados Unidos foi censurado. O norte-americano Gary Hall, favorito dos 50 m livre, havia dito que ele e seus companheiros iriam massacrar os rivais daqui. Foi Grant Hackett dizer que não responderia a um "drogado" (cheat, na gíria local), referência no mínimo aos meses de suspensão do norte-americano por teste positivo para maconha, para levar um pito de John Coates, o presidente do Comitê Olímpico Australiano. Hall também não disse mais nada. Mas deverá haver uma disputa franca e animada na piscina do Sydney International Aquatic Centre, a partir do sábado.
Começando pelo revezamento 4X100m livre masculino, do qual os Estados Unidos têm o melhor tempo: 3min15s65, contra 3min16s08 da Austrália (o Brasil estará correndo por fora nessa prova). Ainda pela natação, o bocudo Gary Hall tentará derrubar o sonho do russo Alexander Popov de conquistar sua terceira medalha de ouro olímpica nos 50 m livre. O mesmo Popov tem um belo rival para os 100 m livre no polonês naturalizado australiano Michael Klim, saído diretamente do filme "O Expresso da Meia-Noite"...
Além de tentar também um terceiro ouro olímpico nessa distância, Popov detém os recordes mundiais das duas distâncias: 21s64 e 48s21.
Dentro da própria equipe australiana, espera-se uma disputa acirrada nos 1.500 m: Grant Hackett, 20 anos - outro da geração-tubarão de Ian Thorpe -, contra Kieren Perkins, já com 27 mas ainda recordista mundial da prova com 14min41s66 e descompromissado, pensando apenas em uma terceira medalha de ouro olímpica.
E se os Estados Unidos levam um ligeiro favoritismo no 4X100 m livre pela melhor marca, é a Austrália que tem o melhor tempo nos 4X200 livre: 7min08s79 contra 7min11s86). Pode dar uma medalha para cada lado, nesses revezamentos masculinos.
A holandesa Inge de Bruijn e a australiana Susie O´Niel podem duelar por quantidade de medalhas: a primeira é detentora de recordes mundiais dos 50 m e 100 m livre (24s39 e 53s80), mais dos 100 m borboleta (56s69). Se bobear, a adversária estará lá, apoiada pela torcida, preparada para levar seus dois ouros, nos 200 m livre e nos 200 m borboleta (nesta, seu recorde mundial é de 2min05s81).
No atletismo, foi-se o tempo dos bons duelos. Em Sydney, o mais esperado teria de acontecer nos 200 m, com Michael Greene (recordista mundial dos 100 m com 9s79) e Michael Johnson (recordista mundial da distância com 19s32). Mas os dois norte-americanos não vão se enfrentar. Alegando contusões - por força de patrocinadores ou não, para não queimarem suas imagens -, acabaram não se classificando para a distância nas seletivas realizadas em seu país. Greene correrá os 100 m e Johnson, os 400 m (onde também detém o recorde mundial, de 43s18).
Pode-se esperar disputa entre atletas do mesmo país, o Quênia, nos 3.000 sobre obstáculos. Talvez a australiana Cathy Frieman tenha, nos 400 m, uma adversária para um duelo, se a francesa Marie-Jose Perec se apresentar em forma, deixando as reclamações - que faz há uma semana - de lado. Nos 10.000 m feminino, a briga pode ser entre atletas de dois países: Etiópia e China.
Nos revezamentos, as norte-americanas podem puxar uma briga nos 4X100 m contra as alemãs, e as russas nos 4X400 m também contra as alemãs. Um jogo que tem tudo para cotoveladas e unhadas é do basquete feminino, entre as "Opalas" da Austrália e as campeãs olímpicas dos Estados Unidos. Mas nos esportes coletivos, as melhores "brigas" ainda dependerão dos resultados das fases preliminares.