Sydney - Ele é uma espécie de D´Artagnan australiano, mas sem bandinha e corneta desafinada. O ex-técnico de natação Laurie Lawrence ainda vai ser visto muitas vezes pulando nas arquibancadas até o final da Olimpíada. Considerado o torcedor número um da Austrália, esse ex-técnico da seleção nacional de natação na Olimpíada de Barcelona, em 1992, é considerado integrante do time olímpico do país, ou seja, um torcedor profissional.
Neste sábado pela manhã, em frente ao Opera House, lá estava ele, vestindo o uniforme verde e amarelo da Austrália e incentivando os torcedores que lotavam as arquibancadas a dançar e gritar pelas atletas do triatlo. O esperado ouro não veio, mas, no final da tarde, sem desanimar, Lawrence agitava a arquibancada do International Sydney Aquatic Centre vibrando com os novos recordes mundiais estabelecidos por Ian Thorpe e companhia.
Laurie Lawrence não é apenas torcedor. Ele dá palestras de incentivo aos atletas, em empresas e compõe músicas para serem cantadas pelos torcedores. E não tem vergonha de mostrá-las na frente das câmeras de TV, como se estivesse em casa, debaixo do chuveiro. Os australianos o adoram, pelo menos aparentemente. "Ele desafina um pouco, mas é considerado um ícone aqui na Austrália", diz o fotógrafo Mark Hornsborn, acostumado a acompanhar o time australiano de natação.
"Laurie Lawrence tem acesso a todos os atletas da natação", confirma Greg Thomas, um dos porta-vozes da equipe de natação australiana. O próprio Lawrence define sua filosofia. "O atleta tem de ter no peito o sentido do patriotismo e é isso o que queremos", afirma.
O excesso de patriotismo na hora de torcer, no entanto, tem causado embaraços aos australianos. A edição deste sábado do jornal Daily Telegraph trazia como manchete "Nosso primeiro ouro", dando como certa a medalha para Michellie Jones, que aparecia pedalando sua bicicleta numa prova de triatlo. Jones era considerada favorita numa modalidade que faz sua estréia como esporte olímpico. Não por acaso, o triatlo feminino praticamente abriu a Olimpíada em frente ao principal cartão postal de Sydney, a Opera House, numa grande festa com cerca de 300 mil pessoas espalhadas pelo percurso. Estava tudo pronto para Jones ganhar a primeira medalha de ouro para o país, mas, por 2s55, ela foi derrotada pela suíça Brigitte McMahon, que completou a prova em 2h00m40s52.
Depois de agitar a torcida fazendo coreografias e batendo palmas com os braços erguidos, Laurie Lawrence deixou o estádio sem comemorar a vitória. Por sorte, ela veio à tarde com a natação.