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Levantadora brasileira chega em casa com ‘ouro simbólico’
Quarta-feira, 20 Setembro de 2000, 19h28

Viçosa (MG) - Acostumada a enfrentar os mais diversos sacrifícios, durante toda a vida pessoal e profissional, a levantadora de peso Maria Elisabete Jorge de 43 anos, retornou nesta terça-feira ao Brasil com a simbólica medalha de ouro da vida. "Por mais que eu diga é difícil alguém saber o que representou para mim ter participado desta olimpíada" disse emocionada a atleta que desembarcou em Belo Horizonte, após uma maratona de mais de 22 horas de vôo.

A levantadora mineira que superou enormes dificuldades financeiras e o preconceito, voltou ao Brasil com a sensação do dever cumprido. O Objetivo era voltar para casa com uma medalha, na primeira vez que o levantamento de peso feminino participou dos jogos, mas diante dos problemas enfrentados, a 10ª colocação na categoria até 48 quilos, acabou sendo encarada como uma vitória. O desabafo de Elisabete veio após a competição em forma de lágrimas. " Não fui medalhista, mas também não fiz feio" resumiu. A atleta treina no Brasil com uma barra masculina (já até oxidada pelos 30 anos de uso) pois não possui recurso para adquirir o equipamento apropriado para as competidoras femininas.

Além de ser 20 cms mais curta, e cinco quilos mais leve, o diâmetro do eixo - onde as atletas seguram a barra - é inferior 3 mm em relação à masculina. "É um material muito caro que não tem no Brasil. Só a barra custa em média U$ 3 mil fora a taxa de importação". Ao chegar a Sidney, Elisabete passou a treinar com a barra feminina que estava à disposição das atletas que participaram dos jogos. A falta de adaptação fez com que a levantadora ferisse as mãos, o que a impediu de alcançar uma melhor performance. "As minhas mãos estavam infeccionadas e por isso eu não consegui um melhor resultado", justifica.

LAVADEIRA - Quando desembarcou no Aeroporto Internacional de Confins, a atleta passou despercebida para as pessoas presentes no saguão, mas menos para o taxista Wellingtton Gonçalves da Silva, que deixou os passageiros esperando e correu até a levantadora para pedir um autógrafo. "A história de vida dela é muito bonita. É uma pessoa persistente que, pela idade e dificuldades, teve de lutar muito para chegar aonde esta".

Elisabete nasceu literalmente na Universidade Federal de Viçosa, cidade a 220 quilômetros de Belo Horizonte. Seu pai, José Jorge trabalhava como tratorista da Universidade, onde ela treina até hoje. A levantadora mora com a mãe Margarida Balbino dos Santos, 60 anos, numa das vilas construídas para os funcionários da Universidade. Filha mais velha de cinco irmãos, Elisabete vive de uma ajuda de custo e da pensão de um salário mínimo da mãe. O pai faleceu há 21 anos, aí as coisas ficaram bem mais difíceis", recorda a atleta, que já trabalhou duro na vida como lavadeira, faxineira e garçonete. Em l991, quando já tinha 33 anos, Elisabete foi obrigada a largar, por falta de apoio, técnico, as provas de atletismo. Ela recebeu então um convite do professor Davi Montero Gomez, que também é presidente da Confederação Brasileira de Levantamento de Peso, para iniciar-se no esporte.

A trajetória foi fulminante. Um ano e quatro meses depois ela se sagraria campeã sul-americana em Santa Fé, na Argentina. As dificuldades de patrocínio no entanto continuavam. Até l994 Elisabete precisava lavar 68 trouxas de roupas por semana para conseguir se sustentar. A atleta é atualmente bicampeã panamericana e tricampeã de master. O objetivo agora é colher os frutos pela participação nos jogos olímpicos. Em breve Elisabete deverá assinar um contrato com o Vasco da Gama do Rio.

"O sr. Eurico Miranda conversou comigo e disse que eu já sou atleta do Vasco" comentou. GUGA - Ela ainda se recorda com saudades do convívio na Vila olímpica. Extrovertida, Elisabete fez amizade com vários atletas da delegação brasileira e também de outros países, mas se encantou com um atleta em especial. "O Guga é uma pessoa tão gente boa e olha que ele é um cara rico, tem dinheiro".

Solteira, mineira confessa que tem dificuldades para encontrar um namorado, que no momento, tem se concentrado apenas na carreira profissional. "O pessoal fala que o levantamento de peso é um esporte para homem e que a mulher fica masculinizada, é um engano. Na minha opinião a mulher fica bem mais feminina. Por enquanto eu estou de caso apenas com o esporte", resigna-se.

A atleta não terá mesmo tempo para descanso. No próximo dia 4 de outubro ela viaja para Orlando, nos Estados Unidos em busca do tretacampeonato de master.

Agência Estado

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