São Paulo - Em uma típica casa de classe média em Taboão da Serra, região da Grande São Paulo, a família do atleta Carlos Eduardo Honorato "respira" judô. O pai do vice-campeão olímpico da categoria médio (até 90 quilos), Antônio Honorato de Jesus, de 52 anos, começou no esporte em 1973, depois de se convencer de que o boxe não era o seu forte. Atualmente, é árbitro da Federação Paulista de Judô. A mãe, Elza Honorato, sagrou-se vice-campeã paulista em 1995, na categoria sênior pesado. O irmão mais novo, Flávio Honorato, chegou a disputar as semifinais da seletiva olímpica.
Apesar dessa força, a luta para que Carlos Honorato alcançasse o sucesso não foi fácil. Na maioria das competições, os pais tiveram de bancar as despesas, com dificuldades. "Chegamos a fazer rifas entre a vizinhança para pagar as passagens", recorda Elza.
Ela lembra do Campeonato Pan-Americano Juvenil, em 1995, em que a família não tinha dinheiro para bancar a viagem de Carlos. "Uma pessoa, que não quis se identificar, depositou US$ 1.200,00 na conta do meu marido", diz Elza. O desconhecido investidor acertou a mão: Carlos Honorato venceu aquele campeonato.
O início dos filhos no judô ocorreu pelo medo que a mãe, superprotetora, tinha das possíveis más companhias da rua. Os pequenos Carlos, então com 8 anos, e Flávio, com 7, foram matriculados em uma academia na zona sul. No princípio, estranharam bastante, porque a maioria dos alunos era descendente de orientais. "Após seis meses, eles já estavam viciados no esporte", brinca Elza.
Não tardou para que os títulos começassem a aparecer. Hoje, no quarto dos meninos não há mais espaço para tantas medalhas. Ou quase. "É claro que para a olímpica será reservado um lugar todo especial", garante Elza.
Sonho - Quando Carlos Honorato perdeu a seletiva olímpica por 3 a 2 para Edelmar Zanol, o Branco - por causa do equilíbrio entre os lutadores, a última luta foi decidida pelos juízes -, a família viu esvanecer o sonho de participar da Olimpíada. Flávio Honorato, na categoria meio-médio, já havia perdido nas semifinais.
Curiosamente, o anúncio da contusão de Branco e, conseqüentemente, da ida de Honorato para Sydney, não trouxe muita animação no primeiro momento. "Ficamos chateados porque queríamos que ele estivesse lá por ter vencido a seletiva", afirmou Antônio. Apesar disso, o pai acredita ter sido legítima a classificação. "O Branco estava machucado; não poderia fazer um papel melhor do que meu filho."
Segundo Antônio, a medalha só surpreendeu quem não conhecia o potencial do judoca. Depois de passar a madrugada toda na frente da TV, às 11 horas de hoje a família recebeu um telefonema do vice-campeão. Como não poderia deixar de ser, ele dedicou a medalha a quem lutou por ele, dentro e fora do tatame: seu Antônio e dona Elza.
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