Sydney - O handebol feminino brasileiro quer passar do colegial nesta sua primeira Olimpíada. Como esporte tipicamente escolar no Brasil, o handebol é praticado por milhares de crianças e adolescentes, que, no entanto, largam o esporte depois de sair do colégio.
Atletas famosos como Hortência, no basquete, e Montanaro, no vôlei, já praticaram handebol na escola, mas depois optaram por outra modalidade. Para mudar essa situação e massificar o handebol, a equipe brasileira luta por um lugar entre as quatro finalistas. "A transmissão ao vivo pela TV daria uma dimensão tão grande ao esporte, que já valeria todos esses 20 anos de trabalho", sonha o técnico Digenal Cerqueira.
Por isso, a partida do dia 28, que define os quatro semifinalistas, é considerada a mais importante da curta história do handebol no Brasil. Apesar da medalha de ouro no Pan-Americano de Winnipeg, no ano passado, Digenal acha que a disputa do bronze seria uma glória muito maior. "Na América Latina, com exceção de Cuba, não temos adversários", explica o técnico. "Mas ficar entre as quatro melhores equipes do mundo, seria o maior feito do nosso handebol e um grande salto para o esporte no País."
Com essa idéia fixa, todo o grupo só está pensando na fase seguinte. Isso porque a vitória de domingo sobre a Austrália (32 a 19) praticamente garantiu o quarto lugar do grupo B. Como se classificam quatro, o Brasil deve jogar com a primeira classificada da chave A, que tem Hungria, Coréia, França, Romênia e Angola. A vantagem é que essas equipes são inferiores a Dinamarca, Noruega e Áustria, todas do grupo do Brasil. "Acho que pegaremos Hungria ou Coréia e aí podemos tentar uma vitória para chegar na disputa do bronze", acredita Digenal, um funcionário público da prefeitura de Medianeira, no interior do Paraná.
Assim, ninguém parece ter se importado com a derrota para a Áustria (45 a 26), na madrugada desta quinta-feira. "Na verdade, estamos treinando contra equipes fortes para chegarmos bem no jogo do cruzamento", explica a armadora Zezé. "Se soubermos assimilar as lições dessas partidas, contra times de nível tão alto, vamos entrar bem melhor no jogo decisivo", acrescenta a outra armadora, Meg, que está com uma inflamação no ombro e só deve voltar nas quartas-de-final.
Mais do que a ausência de Meg, Digenal lamentou a falta da ponta-esquerda Idalina, mas não acha que os desfalques sejam justificativas para um placar tão dilatado contra a Áustria. "O objetivo é usar os três jogos (Áustria, Noruega e Dinamarca) para preparar bem o time, mas não podemos jogar tão mau assim", reclamou o treinador. De acordo com ele, nada funcionou. "Marcamos errado, não tivemos velocidade e, o que é pior, jogamos desanimados", criticou Digenal, prometendo muitas broncas nos próximos dias.
O próximo "treino" será neste sábado, contra a Noruega, campeã mundial e medalha de ouro em Atlanta. Na segunda, a adversária será a Dinamarca, prata na Olimpíada passada. "Se perdermos de pouco para esses times, estaremos prontos para chegar até a disputa de uma medalha", acredita o treinador. Perder de pouco, para Digenal, significa menos de dez gols de diferença. Aí, quem sabe, o handebol brasileiro possa passar no seu vestibular.