Mesmo longe de garantir um lugar no pódio, a 21ª
colocação de Daniele Hypólito na competição individual de ginástica olímpica
já lhe assegura um lugar na história do esporte no Brasil. Jamais uma
brasileira obteve um resultado tão bom nas Olimpíadas.
Até agora, a ginasta
de melhor retrospecto no evento era Tatiana Figueiredo, 27ª lugar nos Jogos
de Los Angeles, 1984. Naquele ano, porém, o boicote do bloco comunista
deixou de fora as atletas dos países do Leste Europeu e da China, que
dominam amplamente a modalidade. Em Seul, 1988, já com a concorrência de
russas, romenas e chinesas, Luísa Parente ficou na 34ª colocação.
Entretanto, Daniele poderia ter se saído ainda melhor não fossem as
trapalhadas dos responsáveis pela organização. Na prova de salto sobre o
cavalo, na qual a brasileira obteve sua nota mais baixa (8,962, de um total
de 37,337 conquistados por ela), uma desatenção dos organizadores fez com
que o aparelho estivesse 5cm mais baixo do que os 1,25m que mandam a regra.
A diferença, que é pequena, causa diferença às atletas. Até que o erro fosse percebido, muitas ginastas não conseguiram executar seus movimentos corretamente e acabaram indo ao chão - inclusive Daniele.
Só quando chegou a vez de uma atleta australiana - que já havia treinado
naquele mesmo ginásio - é que o equívoco foi enfim descoberto. O aparelho
teve sua altura reajustada, e às ginastas foi dada uma nova oportunidade.
Mais uma vez, porém, Daniele viria a ser prejudicada pelos juízes da prova.
A mesária encarregada de anotar os nomes das atletas que iriam saltar
novamente não compreendeu a técnica de Daniele, a ucraniana Iryna
IaIlyaschenco, e a deixou de fora da lista. Assim, a brasileira não pôde
repetir sua apresentação, ao contrário de adversárias dos Estados Unidos,
Grã-Bretanha, Espanha, República Tcheca e Ucrânia.
Daniele, de 16 anos, chorou ao ser impedida de se reapresentar, mas acabou
se conformando: “Deixa assim, se aconteceu isso é porque eu não tinha que saltar. De repente eu podia errar de novo e levar uma nota mais baixa.”
A ginasta quer agora passar uma semana descansando em Sydney. Mas sem deixar
de pensar em ginástica. Ela já está com a cabeça no Campeonato Brasileiro,
em dezembro, e no Mundial da Bélgica, em 2001, além, é claro, das Olimpíadas
de 2004. Ela terá então 20 anos, e sonha em ganhar uma medalha em Atenas: “É o sonho de todo atleta, uma coisa muito difícil, mas se treinar muito a
gente chega lá.”