Sydney - Tem gente que não nasceu para fazer sucesso em Olimpíada. O maior recordista e hexacampeão mundial do salto com vara, Sergei Bubka, tinha tudo para ser um tricampeão olímpico, mas só conseguiu uma medalha de ouro (1988) em três oportunidades. Em Barcelona (92) e Atlanta (96) sequer passou para a final. Assim também é o vôlei masculino italiano, tricampeão mundial e sete vezes campeão da Liga, que ficou só com uma prata nos Jogos passados. Pois a dupla brasileira de vôlei de praia masculino, Emanuel e Loiola, primeira no ranking mundial, parece ter o mesmo destino.
Classificada desde o ano passado, quando obteve o recorde de vencer seis etapas seguidas do circuito mundial, a dupla não conseguiu passar da segunda rodada na Olimpíada de Sydney. Depois de massacrar os austríacos na estréia (15/3), perdeu nesta sexta-feira para os espanhóis Bosma e Diez por 17 a 16 e se despediu dos Jogos. Favoritos absolutos para o ouro, eles não chegaram nem perto do bronze.
Como Bubka e os italianos do vôlei, Emanuel e Loiola já têm razões suficientes para desconfiar da maldição olímpica. O paranaense Fernando Scheffer Rego, mais conhecido como Emanuel, chegou como um dos prováveis finalistas em Atlanta, mas não passou de um nono lugar. Seu companheiro era Zé Marco, que hoje faz dupla com Ricardo na Olimpíada de Sydney e ainda pode compensar o fracasso de 96. Depois de sofrerem na sexta-feira para ganhar da dupla austríaca Stamm e Berger (16/14), eles enfrentam no domingo os canadenses Child e Hesse.
Uma chance que José Geraldo Loiola, um capixaba de 30 anos, queria há dez anos, desde que jogava vôlei de quadra no Flamengo. Sempre com o sonho olímpico na cabeça, ele foi jogar vôlei de praia nos Estados Unidos e tornou-se um dos maiores especialistas do mundo, formando com Anjinho a melhor dupla do circuito. Com a inclusão do vôlei de praia em Atlanta, a dupla seria uma das favoritas. Entretanto, uma briga entre a Federação Internacional de Vôlei de Praia e a Federação dos Estados Unidos deixou de fora da Olimpíada todos os jogadores do circuito americano.
Agora, Emanuel e Loiola achavam que tinha chegado sua vez. Ninguém parecia duvidar disso e algumas revistas e jornais estrangeiros apostavam que a dupla ficaria com o ouro. Por isso, o silêncio e o olhar parado marcaram a saída da dupla da areia de Bondi. Na zona mista, lugar onde os jornalistas dividem o espaço com os atletas, Emanuel ficou olhando para o chão enquanto Loiola procurava explicar o inexplicável. "É um desapontamento, mas não é o fim do mundo", procurava consolar-se sem muito sucesso.
Além da derrota, Loiola tinha motivos de sobra para lamentar. Por duas vezes, a dupla esteve para fechar em 16 a 14, mas não conseguiu marcar o ponto. Depois, também poderia ter feito 17 a 16 (a necessidade de ganhar por dois pontos de diferença só vai até o 16º ponto), mas cedeu a vantagem. No saque espanhol, ele recebeu mal a bola, que espirrou para fora e definiu o jogo. "Tivemos a chance, mas deixamos escapar", resumiu Loiola depois do jogo.
Ainda mais arrasado, Emanuel disse que ficou pensando nos quatro anos de preparação para esta Olimpíada. "Agora tenho de começar tudo de novo", afirmou. "Mas não vou ficar remoendo e o esporte é assim mesmo: termina uma e sempre começa outra." Assim como Bubka e os italianos do vôlei estão em Sydney para continuar sua luta, Emanuel e Loiola não vão desistir e esperam, um dia, superar a sua maldição olímpica.
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