Sydney - Os brasileiros terão farta companhia no muro de lamentações de Sydney. Como sempre acontece numa Olimpíada, o contingente de derrotados é imensamente superior ao de vencedores.
A grande novidade nos Jogos do ano 2000 é o final de carreira de uma galeria impressionante de semideuses, heróis imbatíveis da história olímpica que na Austrália descobriram pela primeira vez o sabor da derrota.
Se o Brasil acha que a derrota da seleção masculina de futebol para Camarões foi a "tragédia do século", pode se sentir consolado pelos cubanos do beisebol, pelos turcos do halterofilismo, pelos ucranianos do salto com vara e pelos russos da luta greco-romana, isso só para citar alguns dos novos frequentadores do cemitério de Sydney.
A lista das tragédias pode começar de qualquer lado e será sempre inacreditável. A seleção cubana de beisebol, invicta havia 18 jogos antes de chegar a Sydney, medalha de ouro em Atlanta e Barcelona, foi massacrada na final pelo time dos Estados Unidos. Perdeu não só para seu pior inimigo como entregou o ouro na principal batalha político-esportiva dos Jogos.
Mais inacreditável que isso só os fracassos do russo Alexandre Kareline, na luta greco-romana dos pesos-pesados, e do turco Naim Suleymanoglu, no halterofilismo para atletas com menos de 62kg.
Nain, o "hércules de bolso", foi campeão em Atlanta e Barcelona. É herói nacional na Turquia, país que o adotou - ele nasceu na Bulgária -, pagando US$ 1 milhão para que o atleta trocasse de nacionalidade. Veio para Sydney tão favorito e tão confiante que escolheu um peso muito alto para começar sua competição e, ainda frio, acabou dando vexame.
Kareline tem um retrospecto ainda mais impressionante. Antes de perder a medalha de ouro para o norte-americano Rulon Gardner, por um ponto perdido, Kareline estava invicto no exterior. A única luta que havia perdido em sua vida tinha sido numa competição interna na Rússia em 87.
Campeão olímpico em Seul, Barcelona e Atlanta, Karelin perdeu na final de Sydney para um adversário que já tinha vencido 22 vezes. O ponto que o tirou do ouro em Sydney foi o segundo que o russo perdeu em toda a sua carreira internacional.
A lista dos "falecidos" em Sydney inclui ainda o ucraniano Sergei Bubka, multimedalhista, campeão e recordista do salto com vara que na Austrália sequer chegou perto da medalha. Estão nela também nomes como o de Marie-José Perec, medalha de ouro em Atlanta e Barcelona nos 400m rasos, que abandonou os Jogos antes de o atletismo começar por excesso de pressão da mídia local.
E, para os torcedores locais, o melhor exemplo de tragédia é a derrota dos famosos "Woodies", Mark Woodforde e Tood Woodbridge, a dupla tenística mais bem-sucedida de todos os tempos, com 11 títulos de Grand Slam, uma medalha de ouro e uma Copa Davis. Os australianos, que disputavam a última competição juntos antes da aposentadoria anunciada de Woodforde, perderam para os canadenses Daniel Nestor e Sebastien Laureau, a mesma dupla que eliminou os brasileiros Gustavo Kuerten e Jaime Oncins da competição olímpica.