Sydney - A única certeza sobre a final do torneio olímpico de futebol entre Espanha e Camarões, na madrugada de sábado (horário de Brasília), é que ela representa uma luta entre o pragmatismo europeu e a exuberância africana.
Camarões, que nunca ganhou medalhas de ouro em nenhum esporte, alcançou a final depois de vencer Brasil e Chile por 2 a 1.
Eles querem igualar a Nigéria, que se tornou o primeiro time africano a vencer uma competição mundial, ganhando o ouro em Atlanta em 1996.
Também querem somar um título olímpico à sua vitória na Copa das Nações Africanas, no início de 2000.
São jogadores velozes que nunca desistem e são capazes de jogar um futebol de qualidade -- ainda que às vezes com mais força que seria necessária.
A Espanha, tentando ganhar o ouro pela segunda vez em oito anos, jogou um futebol bem mais cuidadoso e disciplinado, eliminando a Itália (1 a 0) e os EUA (3 a 1).
Depois de duas semanas viajando pela Austrália, jogando em Brisbane, Canberra, Melbourne e Adelaide, as equipes se apresentarão diante de 110 mil pessoas, sob a tocha olímpica, no Estádio Austrália.
Os dois times têm uma mistura ideal de juventude e experiência e a confiança adquirida por chegar às finais. Mas para um jogador a final olímpica representará a realização de um sonho impossível.
O goleiro camaronês será Carlos Idriss Kameni, de 16 anos, terceiro goleiro na equipe francesa de segunda divisão Le Havre, que começou o torneio como reserva de Daniel Bekono, seis anos mais velho e jogador de um dos times mais importantes do país, o Canon Yaounde.
Mas o treinador Jean-Paul Akono convocou Kameni no lugar de Bekono para o jogo das quartas-de-final, contra o Brasil, quando o time camaronense foi reduzido a nove jogadores e venceu por 2 a 1 na morte súbita.
Ele teve outra atuação brilhante com séries de defesas de tirar o fôlego quando Camarões marcou dois gols no fim da partida contra o Chile nas semifinais, vencendo por 2 a 1.
``Eu realmente não consigo acreditar no que me aconteceu'', disse ele na quinta-feira (horário de Brasília). ``É como um sonho. O país inteiro está nos olhando, há uma grande festa nas ruas todas as vezes que jogamos e a medalha de ouro seria fantástica demais para traduzir em palavras''.
A Fifa confirmou na quinta-feira à noite (horário de Brasília) que nenhum dos dois times teria jogadores suspensos, o que significa que o atacante camaronense Geremi e o zagueiro Aaron Nguimbat, que foram expulsos contra o Brasil, poderão jogar.
A partida terá um significado especial para Geremi, que joga no Real Madrid, para seu companheiro na equipe espanhola Samuel Eto'o e o meio-campista do Arsenal Lauren, que jogou no Real Mallorca, na Espanha. Todos eles conhecem bem os jogadores adversários.
A Espanha vai à final com um bom histórico, que contradiz sua reputação pelas más atuações no Campeonato Europeu e na Copa do Mundo.
Além de ganhar a medalha de ouro em Barcelona, há oito anos, eles ficaram em terceiro no mundial sub-17 no Egito em 1997 e venceram o mundial sub-20 na Nigéria há 18 meses.
Eles também venceram os campeonatos europeus sub-18 em 1995 e o sub-21 em 1998. A maioria dos jogadores da equipe olímpica atuam nestes times vencedores desde os 16 anos.