Sydney - A expressão de abatimento no rosto de Robert Scheidt denunciava o que ele estava sentindo quando perdeu a medalha de ouro do iatismo na classe Laser, na 11ª e última regata da Olimpíada de Sydney, para o inglês Bem Ainslie, seu principal rival nos últimos quatro anos, desde os Jogos de Atlanta, em 1996. Quando começou a regata, o brasileiro tinha vantagem de nove pontos e estava perto da medalha de ouro, mas foi envolvido por uma armadilha do inglês, que sabia que a sua única chance seria tentar desclassificar ou colocar o brasileiro abaixo dos 20 primeiros colocados.
Barba por fazer desde o primeiro dia - vinha dando sorte -, Scheidt terminou com a medalha de prata, um resultado importante, mas considerado uma decepção para quem chegou tão perto do ouro.
Na Marina de Sydney, em Rushcutters Bay, Scheidt deu ao iatismo do Brasil a sua 11ª medalha. Com isso, a vela empatou com o atletismo em número de medalhas olímpicas, com a vantagem de ter quatro de ouro contra três do atletismo.
Para Ben Ainslie, que obteve o melhor resultado do iatismo inglês desde a Olimpíada de 1908, a medalha foi o troco do ouro que perdeu para o brasileiro em Atlanta, em 1996, em situação semelhante - Scheidt marcou o rival, forçando-o a queimar a largada.
Desta vez, Ainslie dificultou tudo o que pode a progressão do brasileiro e garantiu a medalha de ouro, que havia perdido para Scheidt em Atlanta. "É incrível, é um sonho que virou realidade", disse o inglês. "Tudo o que vai volta". "Faz parte do jogo, não estou decepcionado", afirmou Scheidt, que ainda não tinha perdido para o rival na temporada.
Scheidt, que é tetracampeão mundial e campeão olímpico em Atlanta, afirmou que, provavelmente, depois que passasse a "adrenalina" daria mais valor à prata. "Mas eu vi o ouro passando muito perto de mim, principalmente após a primeira regata do dia." Antes do começo da última regata, o brasileiro tinha uma grande vantagem. "A expressão corporal dele (Ainslie) estava abatida, eu tinha moral, vinha andando rápido, tinha tudo para ter conseguido."
Scheidt admite que talvez tenha errado ao não tentar largar mais no meio da flotilha e dificultar o trabalho do rival. "Mas, na hora, as decisões que tem de tomar são muito rápidas." O iatista brasileiro disse que não adiantava pensar apenas na última regata. Ele fez um grande campeonato - venceu cinco regatas (uma delas ganha por causa da desclassificação de um velejador croata) - contra duas vitórias do inglês que, no entanto, foi mais regular.
A Olimpíada foi um campeonato de média. "Talvez ele tenha ganho no geral, mas eu estava velejando melhor", lamentou Scheidt. "Fiz um grande campeonato, mas é uma pena olhar para trás e ver que dessas 11 regatas cada pontinho faz uma diferença enorme quando chega no fim." O iatista esperava a tática agressiva na primeira regata do dia, mas ela acabou ocorrendo na última e ele ficou a dois pontos do rival. "É duro perder uma Olimpíada assim."