Sydney - O hipismo brasileiro conseguiu seu melhor desempenho em Olimpíada, com a medalha de bronze na competição por equipes e André Johannpeter quarto colocado na prova individual, mas a eliminação de Rodrigo Pessoa na prova final da competição de saltos foi um fim amargo para a participação do País nos Jogos de Sydney.
O cavaleiro tentou encontrar uma explicação para a recusa de seu cavalo, Baloubet du Rouet, em ultrapassar um obstáculo duplo, atitude que acabou com a melhor e última chance do Brasil conquistar uma medalha de ouro. "Mas acho que só olhando em vídeo e avaliando com calma vamos entender o que aconteceu”.
Segundo Rodrigo, Baloubet não teve nenhum problema para entrar na pista do Parque Horsley na prova da manhã e completar o percurso sem faltas. O cavaleiro voltou para a segunda passagem necessitando uma nova pista limpa, no tempo determinado, para conquistar a medalha de ouro. Mas tudo deu errado desde o início, com a montaria tocando o primeiro obstáculo.
"Quando ele derrubou o primeiro procurei ver a coisa de um jeito positivo, achando que ele não faria de novo", conta Rodrigo. "Depois ele se esforçou muito para superar o duplo e, ao ver o triplo, ele se recusou a saltar”. Rodrigo ainda tentou passar pelo obstáculo mais duas vezes, mas não conseguiu e acabou eliminado.
"É um cavalo muito corajoso, muito generoso, tem um respeito muito grande e quando alguma coisa está errada ele não quer se colocar em situação difícil”.
Segundo o cavaleiro, Baloubet só havia refugado uma vez em competições: no Grande Prêmio de Monterrey, há dois anos. Na ocasião, o cavalo não quis saltar um obstáculo em forma de cavalo. Mas, para Rodrigo, o caso não tem relação com o que aconteceu.
Depois de terminada sua participação, o ginete foi para as cocheiras, abatido. Quando recebeu a visita do presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Arthur Nuzman, fez grande esforço para não chorar e, depois de se despedir do dirigente, voltou para as baias, onde tentava se consolar, consolando Baloubet. "É difícil quando você está tão perto assim de uma conquista tão importante e termina desse jeito, fazendo uma falta, duas faltas, não disputa medalha", concluiu Rodrigo.
"O esporte é assim, qualquer esporte é assim, é um pouco amargo”. Rodrigo diz que não pretende viajar para o Brasil. "Acho melhor deixar a poeira abaixar e, depois, talvez vá”. Sua idéia é voltar para a Bélgica, onde mora com a família, e retomar a rotina. O cavaleiro afirma que esta é a última competição de Baloubet este ano, mas que deverá voltar a montar, com outro cavalo, em um torneio na Alemanha, no fim do mês.
Nelson Pessoa Filho, pai de Rodrigo e técnico da equipe brasileira, acredita que algo aconteceu com Baloubet. "Talvez ele tenha sentido algum problema na vértebra ou nos rins quando passou o triplo e por isso se acovardou", avaliou. Assim como Rodrigo, ele não acredita que a primeira falta tenha tido alguma relação com o que aconteceu.
Para Neco, o que aconteceu com seu filho foi uma fatalidade a qual todo atleta está sujeito e, por ele e o cavalo serem jovens, terão nova oportunidade em outra Olimpíada. Diogo Coutinho, dono de Baloubet, ficou bastante decepcionado, mas não fez críticas a Rodrigo ou ao cavalo e, assim como o técnico da equipe brasileira, acredita que os dois terão nova chance. Neco sequer pôde estar com o filho nos primeiros momentos após a eliminação.
Como treinador da equipe da Arábia Saudita, ele acompanhou o cavaleiro Khaled Al Eid, que montou Khashm Al Aan, na disputa do desempate pelo primeiro lugar. O cavaleiro ficou com a medalha de bronze, atrás dos holandeses Jeroen Dubberldam (Sjiem), ouro, e Albert Voorn (Lando), que levou a prata. "Ele era um outsider, mas não poderia ser considerado um azarão", comentou Neco sobre seu aluno medalhista.