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Marcelinho culpa torcida por fracasso corintiano
Quarta-feira, 11 Outubro de 2000, 21h20
Atualizada: Quarta-feira, 11 Outubro de 2000, 21h20

São Paulo - Na qualidade de capitão do time e principalmente por ser o jogador com mais tempo de casa - com 8 anos de Corinthians -, o atacante Marcelinho Carioca foi o primeiro a admitir o que todos sabem mas até então ninguém tinha coragem de falar: desde que a Gaviões da Fiel ameaçou espancar Edílson, no dia da apresentação do ex-técnico Oswaldo Alvarez, os jogadores passaram a jogar com medo da torcida.

O desabafo foi feito pouco antes da viagem a Salvador, onde o time enfrenta o Bahia, nesta quarta-feira, pela Copa João Havelange: "O time está inseguro com as cobranças, especialmente as da torcida. A gente já está entrando em campo preocupado, e isso não nos ajuda em nada".

Marcelinho revelou que até os reforços recém-chegados também estão espantados com a impaciência do torcedor corintiano. "Eles já conheciam de fora como funciona a pressão da torcida, mas não imaginavam que do lado de cá isso faria tanta diferença. Não poder errar é a pior coisa que pode acontecer para um time de ponta como o Corinthians. Mesmo os jogadores mais experientes sentem essa pressão", desabafa o atacante Marcelinho.

Marcelinho não é contra a manifestação da torcida. Se esse sentimento de insatisfação com o time fosse por meio de vaias, tudo bem. O problema são as ofensas e as ameaças que têm sido feitas ainda no decorrer das partidas, especialmente no segundo tempo. "O torcedor pode vaiar à vontade, é um direito dele. O que não pode é chegar no segundo tempo e começar a xingar a gente. Isso só piora as coisas. Os jogadores ficam na obrigação de acertar todas as jogadas e acabam errando. Além de tudo, para as pessoas que amam esse clube como eu, isso magoa".

Marcelinho relaciona o péssimo momento do time na Copa João Havelange à instabilidade gerada pela Gaviões da Fiel no dia da chegada do técnico Oswaldo Alvarez. Naquela tarde de 26 de junho, os torcedores invadiram o estacionamento reservado aos jogadores e só não agrediram Edílson porque os seguranças do clube e a Polícia Militar chegaram a tempo.

"Não tenho a menor dúvida que a torcida provocou uma instabilidade na equipe com aquela manifestação. E as consequências daquilo estão se refletindo até hoje. Pior de tudo é que nos jogos, quando o time mais precisa do incentivo da torcida, ela está deixando de nos apoiar. E quem acaba levando vantagem nisso tudo são os nossos adversários, porque além de não estarmos conseguindo as vitórias, ainda estamos tendo de lutar contra o nosso próprio torcedor".

Com a troca de Vadão por Candinho, Marcelinho tem esperanças de que esse problema seja contornado. Já na sua apresentação, Candinho pediu a colaboração da torcida. Marcelinho acha bom isso. Caso contrário, o time vai correr o risco de afundar definitivamente na Copa João Havelange. "Se não conseguirmos a classificação, temos de preservar pelo menos o time para as competições futuras. Se não, a torcida vai acabar afundando também o bom time que está sendo montado. Aí, o torcedor palmeirense vai ficar rindo de orelha a orelha".

O histórico recente da relação torcida-jogadores é ainda mais grave. Em 97, quando o time estava ameaçado pelo rebaixamento para a segunda divisão no Campeonato Brasileiro, a torcida armou uma ´emboscada´ na volta da Vila Belmiro, após uma derrota para o Santos. Até hoje suspeita-se que foi a Gaviões que parou o ônibus corintiano em plena estrada e ameaçou linchar os jogadores. Segundo consta, esse foi um dos motivos que mais pesou na decisão do colombiano Freddy Rincón de trocar o Corinthians pelo Santos.

Na hora de testemunhar contra os torcedores, porém, ninguém do time teve coragem de acusar a Gaviões. Que, por sua vez, também não assumiu a autoria do crime.

Agência Estado


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