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Ferrari deve muito do título a Montezemolo
Terça-feira, 17 Outubro de 2000, 02h07

São Paulo - Se há alguma coisa capaz de se projetar por cerca de 9 mil quilômetros mais rapidamente do que a Internet, talvez seja a tensão nervosa. Por isso, quando a explosão de alegria da Ferrari encheu o pódio, no parque fechado do autódromo de Suzuka, quando os integrantes da equipe, como crianças, deram banhos de champanhe uns nos outros, o homem que é o maior responsável pela restauração da boa sorte da Ferrari vemelha estava só, em uma sala escura, em sua vila, na Itália.

Michael Schumacher pilotou o carro como só ele poderia ter feito. Jean Todt, o francês, manteve a equipe unida, com atenção paternal. Ross Brawn, o inglês que é o guia de Schumacher na pit lane, lê as táticas com perfeição.

Mas Luca Cordero di Montezemolo, o homem que contratou todos eles e a quem o falecido Enzo Ferrari confiou sua marca famosa, estava fechado em sua casa nas colinas situadas acima de Bolonha.

Vestido para comemorar - Seu filho, talvez sua filha, mas ninguém mais, deve ter partilhado o momento em que, depois de 21 anos, e após o domínio da McLaren, o título de piloto de Fórmula 1 foi restaurado à Ferrari. E estava anoitecendo no Japão e era manhã de domingo na Itália central, quando Montezemolo, de aparência composta, com o lenço colocado no bolso de cima do paletó, os cabelos penteados para trás, foi conduzido de carro a Maranello, o berço e a fábrica da lenda Ferrari.

Lá, na Piazza Liberta, a praça principal dessa cidade rural, uns 15 mil aficcionados estavam reunidos em torno de uma tela de 50 metros quadrados. Alguns deles eram trabalhadores que, durante muitos anos de sua vida, foram instados por Enzo Ferrari, que morreu em 1988, a dar sua alma pela companhia.

Essa celebração foi natimorta em três dos últimos cinco anos, quando as Ferraris foram vencidas. Dom Eno Belloi havia preparado uma cerimônia de ação de graças; a fábrica de lambrusco esperava com 120 garrafas de Rosso di Maranello da safra deste ano, que seriam abertas quando o presidente Montezemolo terminasse seu discurso. "Finalizar o milênio com o título mundial de construtores (ainda dependendo da última etapa em Sepang, na Malásia, no domingo)", disse ele, "e iniciar o novo com o título de piloto dá à Ferrari uma razão para se sentir particularmente orgulhosa. E estou certo de que Enzo Ferrari não teria desejado mais do que isso."

Da família Outra grande missão havia sido cumprida. Montezemolo é o elo entre a antiga e a nova Ferrari. Foi o protegido de Enzo Ferrari, mas também foi escolhido pessoalmente por Gianni Agnelli, chefe da aristocrática família Fiat, que hoje é proprietária da Ferrari. Assim que a corrida terminou, Agenelli ligou para Montezemolo como um pai liga para um filho.

Há uma década, quase até um dia depois de Montezemolo ter dirigido a Copa Mundial, na Itália, como seu diretor-executivo, Agnelli decidiu que ele era a pessoa certa para restaurar a glória antiga da Ferrari.

Era um desafio que custaria à Ferrari ainda mais do que qualquer dos dois podia imaginar - 1 bilhão de libras esterlinas - e sobrecarregaria a vida pública e pessoal de Montezomolo até o limite máximo.

Não lhe foi pedido que fizesse mais do que já havia realizado. Na década de 70 Enzo Ferrari telefonou a Montezomolo, que na época era um advogado recém-formado e veloz piloto de rali, para convidá-lo a ser seu assistente pessoal. Montezemolo passou a conhecer os segredos daquele homem idoso e ficou com as cicatrizes de uma existência perigosa.

Como diretor de equipe, Montezemolo conheceu a alegria dos triunfos anteriores da Ferrari por meio de Jody Scheckter em 1979, o ano seguinte ao da morte de Ronnie Peterson ao volante. "Pobre Ronnie" é o máximo que Montezemolo pode dizer sobre aquela lembrança.

Agnelli e Ferrari foram os dois patrícios que fizeram Montezemolo. "Sem eles", diz este último, "eu não seria nada."

Sem as oportunidades que eles lhe ofereceram, talvez não tivesse mais sonhos dos que um simples advogado em Roma. Em vez disso, agora, aos 53 anos, levado pelo temor do fracasso e compelido a seguir sempre adiante, seu objetivo é criar novos modelos Ferrari para estrada, novos mercados em lugares tão opostos, do ponto de vista ideológico, como Estados Unidos e China, e perpetuar a mitologia da máquina Ferrari com as vitórias nas pistas de corridas.

Jornal da Tarde


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