As torcidas organizadas voltaram a estar em evidência nas últimas semanas, mais pelos questionamentos que provocam do que pelos espetáculos que proporcionam para apoiar seus clubes. Incidentes isolados registrados no Gre-Nal. Um violento quebra-quebra no Ginásio Gigantinho em uma partida de futsal entre Inter e Ulbra. A suspensão de duas organizadas do Internacional.
O que muitas vezes passa despercebido é a presença de torcidas de outros Estados em espaços onde se concentram adversários. Não são torcedores isolados que foram ao estádio “secar” o rival, mas faixas e representantes das organizadas, o que revela a rede de colaboração e aliança que une torcidas pelo Brasil afora. Ao apoiar um time, os grupos imediatamente conquistam a inimizade das agremiações rivais.
Esta é uma história do que não vai acontecer. A história de como um ato de vandalismo foi coibido por acaso.
A suspensão de duas torcidas organizadas do Inter refreou os ímpetos de colorados mais exaltados que tinham planos de ir de carro até Osório para esperar a delegação da torcida Força Jovem, do Vasco. Os cariocas vêm de ônibus para Porto Alegre para assistir ao jogo contra o Inter, em 5 de novembro, no Beira-Rio.
A idéia era efetuar um atentado contra o ônibus da torcida vascaína, que é declaradamente amiga da Torcida Jovem do Grêmio. O plano só não foi adiante porque o Inter ameaçou transformar a suspensão temporária em permanente, e o grupo desistiu do atentado.
Quem conta é E.S., um guardador de carros, de 19 anos, simpatizante da Camisa 12, a torcida organizada do Inter.
”O pessoal do Vasco é da turma dos gremistas, tinham mais é que apanhar mesmo, mas não vai mais rolar. O pessoal não quer se queimar com a direção da 12”, diz ele, que pediu para não ser identificado.
O grupo desistiu da idéia depois que duas torcidas do Inter, a Nação Independente Colorada e a própria Camisa 12, foram suspensas por tempo indeterminado devido a um quebra-quebra generalizado no jogo contra a Ulbra, no Gigantinho, pela semifinal da Série Ouro do Campeonato Gaúcho de Futsal.
A suspensão, que foi decidida pelo Conselho de Torcidas, criado pelo clube, com representantes de cada uma das três organizadas, também manda seus integrantes pagar ingresso e os proíbe de pendurar faixas e entrar no estádio com instrumentos musicais.
O episódio revelou um novo componente entre as já tradicionais rivalidades entre as torcidas. As organizadas da dupla Gre-Nal mantêm uma rede de alianças no país e beneficiam-se da solidariedade de grupos de outros clubes – tanto para o bem como para o mal. As ligações entre as torcidas são assumidas pelas próprias agremiações, e usadas como meios de contato para garantir apoio aos torcedores que se deslocam para acompanhar um jogo.
As organizadas de Grêmio e Inter têm seus aliados em outros Estados, a quem recepcionam quando chegam a Porto Alegre, e recebem a contrapartida quando viajam.
Quem estranhou, por exemplo, a presença de membros das torcidas gremistas Garra e Jovem na arquibancada do ginásio Tesourinha, em 17 de julho deste ano, para apoiar o time de futsal do Vasco contra a Ulbra, válido pela Liga, é porque desconhece os laços de amizade entre elas.
”Quando viajamos para o Rio de Janeiro, quem nos recebe lá, e muito bem, é a torcida do Vasco e não a Ulbra, então claro que fomos apoiar”, justificou o presidente da Torcida Jovem Gremista, Nilson Corrêa da Silveira.
No Inter, ocorre o mesmo. A Camisa 12, uma das torcidas suspensas na bagunça do Gigantinho, identifica em sua página na Internet as torcidas “aliadas”: Jovem, do Sport, Jovem Fla, do Flamengo, Independente, do São Paulo, e Máfia Azul, do Cruzeiro. Uma seção da página é dedicada à exibição de troféus da torcida. Mas que não se pense em taças ou medalhas. Os troféus são faixas das torcidas rivais: as organizadas de Grêmio e de seus aliados.