São Paulo - Se depender da preparação de Marcondes Rocha e Bernardo Pigmeu, o futuro do surfe brasileiro será dos melhores. Um de 16 e outro de 17 anos, vão se profissionalizar no ano que vem, mas já estão participando de várias etapas do World Qualifying Series (WQS), a categoria que dá acesso ao World Championship Tour (WCT), a elite do surfe mundial. Em Maresias, no Hang Loose Pro Contest, Pigmeu e Marcondes estão tendo boas participações.
Os dois são patrocinados pela Hang Loose, grife voltada para os surfistas, que há 15 anos realiza essa competição e foi responsável pela revelação de Flávio (Teco) Padaratz e Fábio Gouveia.
Diretor-presidente da Hang Loose, Alfio Lagnado lembra de 1986 - quando o surfe mundial (não havia divisão entre WCT e WQS) chegou aqui pela primeira vez: "O Brasil estava meio isolado do resto do mundo no surfe mas tudo foi muito bom. A organização, as ondas, tudo foi um sucesso."
Mas houve muitas mudanças desde aquele tempo. Comparando a preparação da nova e da velha geração, assinala: "Para nós também era novidade. Minha experiência internacional não era tanta, mas as coisas eram menos complicadas: antes só se precisava de talento. Hoje, de talento e preparação."
A preparação a que Alfio se refere não diz respeito somente ao condicionamento físico, mas também ao aspecto mental. "As orientações abrangem tanto a parte física quanto a psicológica. São muitas coisas, como mulheres e competições, por exemplo. Além disso, eles têm de aprender a se virar sozinhos, vão morar uns meses na Austrália. Aqui eles têm muitos amigos."
Sem pontos Pigmeu e Marcondes já eliminaram surfistas muito mais experientes e passaram para a quarta etapa do Hang Loose Pro Contest, mas não podem pontuar por serem amadores. Quanto a morar na Austrália, Marcondes afirma:
"Vai ser muito bom aprender a falar inglês. Um surfista profissional sem isso não é nada. Imagine na Califórnia, por exemplo, não entender o que eles estão falando... não dá, né?"
Teco Padaratz, 29 anos, já passou pela situação que os dois surfistas estão atravessando - a de ser patrocinado pela Hang Loose, junto com Fábio Gouveia -, salienta que apesar de o tratamento ser igual para Pigmeu e Marcondes, os dois apresentam diferenças enormes no modo de surfar. "O Marcondes tem um estilo muito mais agressivo nas ondas. O Pigmeu é mais harmonioso, tem um surfe mais bonito." O veterano acha que "o mercado do surfe brasileiro cresceu demais - já vejo os dois como futuros campeões".
Com tantos cuidados para uma carreira promissora, Marcondes afirma já saber qual é o caminho para o sucesso: "Ler muitos livros para a cabeça estar em ordem, ter uma boa alimentação, não abusar nas saídas à noite e não usar drogas. Cada um sabe muito bem o que deve fazer."