Paris - O futebol corre o sério risco de deixar de ser o esporte do povo. Na última Copa do Mundo da França, o sistema de distribuição de ingressos e seus preços elevados contribuíram para afastar as camadas mais populares de torcedores dos estádios. Elas ainda puderam acompanhar as partidas pela televisão, mas a partir de agora estão ameaçados de perder também esse direito.
Isso porque a Fifa, cedendo os direitos de retransmissão da Copa do Japão e Coréia por uma verdadeira fortuna ( 2,8 bilhões de francos suiços ) , pode ter feito um bom negócio, mas sem dúvida esse parece ter sido um mau negócio para os telespectadores do mundo inteiro.
Os grupos alemão Leo Kirch e o suíço, ISL, uma agência de marketing esportivo, pretendem arrecadar com a venda dos direitos de transmissão em todo o mundo , o montante de 5,2 bilhões de dólares, mas estão encontrando sérias dificuldades junto a diversos países, entre eles a França.
As três principais emissoras francesas interessadas, Canal Plus, TF1 e France Television comandam uma frente de rejeição na Europa diante do valor da cota francesa, 200 milhões de dólares pelos 64 jogos da Copa. Dificilmente eles poderão rentabilizar essa operação, a não ser que reservem algumas partidas para as televisões abertas e a maior parte para o sistema fechado, isto é a venda de assinaturas ou individualmente de cada partida.
Por enquanto, diante dos preços proibitivos nenhuma das três emissoras francesas interessadas cedeu, na espectativa de que as tarifas possam cair . Afinal, os direitos mundiais de retransmissão da Copa da França, em 1998, custaram 600 milhões de dólares.
Na Espanha, em 1982, os países pagaram apenas 200 milhões de dólares para todo o mundo. Agora, eles foram multiplicados praticamente por dez, se levarmos em conta que a estimativa da venda dos direitos para a Copa da Alemanha, em 2.006, é de 6 bilhões de dólares.
Diversos países europeus estão reagindo da mesma forma. Por enquanto, só a Espanha já bateu o martelo, adquirindo os direitos de retransmissão por 170 milhões de dólares. Quem comprou foi o operador de televisão numérico Via Digital, controlado pelo grupo Telefônica. Na Espanha, as televisões abertas deverão transmitir as partidas da seleção espanhola, mas a maior parte das 64 partidas da Copa serão comercializadas junto as televisões fechadas em que o telespectador ou é assinante ou terá que comprar o direito para cada jogo. Só dessa forma, os telespectadores espanhóis terão acesso ao conjunto da competição.
Na Inglaterra, cuja classificação da equipe nacional não está garantida, pelo contrário, a situação é das mais confusas. A Inglaterra deve pagar à ISL e á Kirch cerca de 220 milhões dólares de direitos de retransmissão, uma quantia cinquenta vezes superior a que as duas emissoras de televisão, a BBC e ITV, pagaram na Copa de 98.
O Japão , através da líder de um consórcio de cinco emissoras privadas, a NHK, depois de muita discussão com a ISL chegou a um acordo e deverá pagar 100 milhões de dólares , sendo que na Copa da França esse país pagou de direitos apenas 6 milhões de dólares.
As duas empresas estão enfrentando muitas dificuldades para vender pelos preços fixados a próxima Copa do Mundo, pouco adiantando as promessas de que esse será um super espetáculo, um novo conceito de transmissão das partidas de futebol, inspirado nas coberturas atuais de Fórmula 1. Na Europa, as emissoras terão dificuldade para rentabilizar o investimento, pois as partidas serão transmitidas as 8,30, 11 e 13,30 horas, um horário pouco remunerador em matéria de publicidade e mesmo de público.