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Magrão é citado na CPI e acha graça
Quarta-feira, 22 Novembro de 2000, 02h10
Atualizada: Quarta-feira, 22 Novembro de 2000, 09h56

São Paulo - Quatro meses de Palmeiras já serviram para Magrão sentir o que significa jogar em um time grande - a idolatria dos torcedores, como também o constrangimento inesperado de ser citado na CPI do Futebol. O jovem jogador, que passou grande parte de sua infância na favela de Heliópolis e teve vários amigos mortos por violência, está assustado por ter de depor em Brasília. Muito mais do que jogar pela Mercosul hoje, contra o Atlético.

"Nunca pensei que fosse ser citado na CPI. Logo eu, tão humilde? Estou citado ao lado de Romário, Rincón, Marcelinho Carioca. Só feras que ganham fortunas há muitos anos. Chega a ser engraçado. No ano passado nem declarei Imposto de Renda porque meu salário não atingia o mínimo lá no São Caetano.

O pessoal de Heliópolis iria rir muito de saber que vou depor em Brasília como grande sonegador", ironiza Magrão. O jogador foi citado porque na carteira profissional seu salário é de R$ 8 mil e ele recebe mais R$ 12 mil como `direito de imagem'. A prática é normal no Palmeiras.

"Só fiz o que me mandaram. Não tenho dinheiro nem para comprar uma casa para mim ou para os meus pais. Estou ganhando bem há quatro meses." Márcio Rodrigues revela que mereceu o apelido de Magrão. "Meu pai ganhava salário mínimo e a minha mãe era faxineira. Não tínhamos dinheiro mesmo. A comida era pouca mesmo. Arroz, feijão e ovo. Só fui saber o que era iogurte com 18 anos. Não tenho massa muscular porque não comia. Tive hepatite e broncopneumia. Foi duro. Por isso me mato tanto em campo para que essa situação não se repita."

Contusão e abandono - A vida não foi fácil para o volante de 21 anos. Jogava como atacante e foi reprovado em testes nas categorias de base do próprio Palmeiras. Depois conseguiu ser aprovado na Portuguesa, mas se contundiu e foi abandonado, tendo de se tratar sozinho. Começou a jogar nos juniores do São Caetano e foi ganhando o seu espaço. Enquanto isso, sua vida sofria outra reviravolta: sua namorada Andréia engravidava e o casamento aconteceu com 18 anos.

"Já fazia uns bicos trabalhando como marceneiro. Cheguei a pensar em parar, estava tudo muito difícil. Mas resolvi insistir. Estaria ferrado se não fosse o futebol. Talvez caísse na tentação que arrastou vários amigos meus para o mundo do crime. Alguma coisa eu teria de fazer para cuidar da minha família. Só estudei até o primeiro colegial. Quem não tem estudo no Brasil está perdido. Mas Deus me ajudou na hora certa."

Cruzeiro e Corinthians tentaram contratá-lo do São Caetano. Mas a Diretoria já havia se comprometido com o presidente Mustafá Contursi e Magrão foi para o Palmeiras. "Cheguei morrendo de medo dos traíras do futebol. Me diziam que em time grande só tinha gente falsa. Mas dei muita sorte. Encontrei o melhor grupo da minha vida. Todos estão tentando conseguir seu espaço. Nos unimos para brigar juntos. Formamos um time que ninguém acreditava. Começar a decidir título é tudo que sonhamos. Podemos ter potencial restrito tecnicamente, mas ninguém vai lutar mais do que nós para ganhar a Mercosul e a Copa João Havelange. A solidariedade é a melhor arma no futebol. E vamos provar isso", garante, empolgado, sem saudade de Heliópolis.

Jornal da Tarde


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