São Paulo - Alexandre Barros cansou de fazer número no Mundial de Motovelocidade. E tem certeza de que dias bem melhores virão.
Depois de ter disputado 11 temporadas nas 500cc, com apenas três vitórias, o único piloto brasileiro na categoria acha que no ano que vem terá condições de andar entre os primeiros colocados.
Alex viaja nesta sexta-feira para Jerez de la Frontera, Espanha, onde realiza os últimos testes do ano. Na quinta, esteve em seu escritório em Alphaville, decorado a caráter: no armário, guarda capacetes, botas e macacões –um de cada temporada, menos dois, que ele doou para pilotos brasileiros sem recursos.
Na parede, há um diploma do Guinness, o livro dos recordes, atestando que foi ele o primeiro brasileiro a vencer um GP nas 500cc: em 1993, na Espanha. Até pouco tempo, era sua primeira e única vitória. Mas neste ano, apesar de um sério acidente no início da temporada, Alex venceu duas provas (Alemanha e Holanda), acabando com o jejum de sete anos.
E ganhando a confiança da sua equipe, a Emerson Honda Pons lhe ofereceu um contrato para correr sem ter de pagar. E uma moto nova, de ponta – assim como para seu companheiro, o italiano Loris Capirossi. Assim, Alex pôde, outra vez, recusar convite para correr de Superbike, uma categoria paralela, também internacional, disputada com motos de rua, comercializáveis, de 750cc e 1000cc.
As paredes do escritório também exibem fotos do próprio Alex e uma de Rubens Barrichello, autografada e com a mensagem: "Começamos juntos e venceremos juntos." Os dois se conhecem desde que Alex tinha 9 anos de idade. Rubinho também chegou à principal categoria de seu esporte, a Fórmula 1, depois de uma trajetória cheia de obstáculos no decorrer dos anos 90 –deu a volta por cima neste ano, conquistando com a Ferrari sua primeira vitória. Também venceu na Alemanha e também terminou a temporada em quarto lugar.
Com tantas coincidências, quem sabe a profecia de Rubinho se realiza e os dois, em breve, tornam-se campeões. No início da carreira, Alex tinha boa moto, mas faltava experiência. Durante alguns anos, teve motos ruins. Agora, esse paulistano de 30 anos tem as duas coisas.
Confira a entrevista:
Jornal da Tarde – Qual a principal diferença entre a moto deste ano e a de 2001?
Alex Barros – Eu tinha uma 99, agora vou ter uma 2001. O chassis é o mesmo, na suspensão talvez tenha alguma coisa melhor. O que muda mais é a potência. É a moto com a qual o Valentino ganhou aqui no Brasil (o GP no Rio de Janeiro). Corre mais, tem mais aceleração.
JT - Você foi convidado para correr de Superbike?
Alex - Nos últimos quatro anos, me procuraram.
JT - Nunca interessou?
Alex - Sempre. Só que, se puder, prefiro continuar na 500cc. É como F-1 e Indy. Mudaria se não tivesse uma moto competitiva. Se não me dessem, tinha uma equipe de fábrica me oferecendo uma moto campeã do mundo.
JT - Qual?
Alex - A Ducati, campeã nos quatro últimos anos.
JT - De onde você tirou persistência para ficar sete anos no Mundial sem ganhar?
Alex - Muita gente não ficaria, no meu lugar. Não pagaria para correr. Como pode você estar recebendo para trabalhar e no meio do caminho ter de pagar de novo? É difícil, mas sempre acreditei no meu potencial.
JT - Como era no início?
Alex - Em 1990, eu era contratado. Fui renovando e sempre sendo pago: em 90, 91, 92, 93 e 94. Em 95, eu paguei. Em 96, 97, 98 e 99, não. Aí, neste ano eu paguei. E espero não pagar mais. Chega!
JT - E a expectativa para 2001?
Alex - Ser campeão do mundo.
JT - Qual foi o pior acidente que você já sofreu?
Alex - Este ano, na Malásia, quando quebrei duas costelas. Foi bem doloroso. Mas o mais impressionante foi em 93, na Holanda. Estava em primeiro lugar, faltando uma volta, e caí a uns 250 km/h. Fiz uns 150 metros no chão, mas tive só hematomas. Teve uma vez em 91 em que quebrei o pulso e a clavícula. Perdi 10 corridas. Voltei e depois de duas corridas estava treinando e caí de novo, em cima do pulso quebrado.
JT - Qual?
Alex - O esquerdo.
JT - É menos pior?
Alex - É, porque não acelera. Mas de qualquer forma, quando você freia faz pressão.
JT - Por que você é o único brasileiro no Mundial?
Alex - Se não houver um ídolo, o esporte não evolui. Com o Guga, o tênis ficou conhecido. Agora, precisa haver continuidade, como no automobilismo. O Émerson Fittipaldi ganhou em 72 na Fórmula 1, teve seqüência e até hoje o automobilismo tem tradição. Agora, com o Alexandre tendo apoio da mídia e bons resultados, deve dar maior abertura no mercado de motociclistas, trazer interesse da mídia, dos patrocinadores e dar possibilidade de novos pilotos começarem a correr. E aí se cria uma escola.
JT - E você será o Émerson, o Guga da moto?
Alex - Sou o Alexandre, mas é mais ou menos por aí.
JT - As pessoas reconhecem você no Brasil?
Alex - Cada ano mais. Na quarta-feira, fui ao supermercado e uma menina quase chorou. Ela tremia de nervoso. É apaixonada por moto.