São Paulo - O técnico da equipe brasileira na Copa Davis chama-se Ricardo Acioly, mas atende por Pardal, apelido que ganhou por uma semelhança com o cientista das histórias em quadrinhos da Disney que tinha idéias curiosas: "Eu inventava muita coisa quando era garoto, muita jogada louca na quadra.
Gostava de bater a bola embaixo das pernas, dar saques invertidos..."
Depois da semifinal alcançada neste ano, quando perdeu da Austrália, o Brasil começará em fevereiro a disputar mais uma Davis, contra Marrocos, no Rio de Janeiro. Gustavo Kuerten será, mais uma vez, a principal arma, mas dessa vez na condição de líder do ranking da ATP (Associação dos Tenistas Profissionais).
Mas o Pardal, de tantas acrobacias com a raquete, não acha que agora, aos 36 anos, terá de inventar nada especial para lidar com esse reverenciado Guga.
A equipe tem ainda Fernando Meligeni, Jaime Oncins e um quarto jogador a ser escolhido.
Entre um treino e outro com Meligeni, seu pupilo, Acioly arrumou, sexta-feira à noite, tempo para essa entrevista. Fez questão de manter o respeito pelos marroquinos, mas deixou claro: "A gente confia no nosso taco."
Após um ano ruim, qual a expectativa do Meligeni para 2001?
Ele teve um ano muito complicado, caiu no ranking. Ele teve contusões durante boa parte do tempo, no calcanhar, na coxa, nas costas... e isso foi minando sua confiança. Mas não está sentindo nada agora. Como está terminando a temporada muito tarde (ainda vai participar do Masters da Copa Ericsson, na semana que vem), ele não vai participar do Aberto da Austrália.
Vai ficar treinando em saibro.
Jornal da Tarde - O fato de o Guga ter chegado onde chegou muda alguma coisa no seu trabalho?
Acioly - Não influi em nada porque não trabalhamos em cima de um só jogador.
Quando a gente entra na quadra, é um por todos e todos por um. Quando jogamos a Davis passada, ele era o número dois do ranking. Não muda muito. O que talvez mude é a determinação, a vontade do pessoal ser igual ao Guga e melhorar.
Você não teme que ele mude a maneira de ser?
Não existe estrelismo na equipe. Essa é uma ideologia não só minha, como dos outros e do Guga em si. Ele é um cara do grupo, sempre teve a mesma postura, desde que ganhou Roland Garros pela primeira vez (97), desde que entrou no circuito.
Dá para pensar em título na próxima Davis?
Dá para pensar no primeiro jogo. Marrocos é um adversário difícil, tem excelentes jogadores, os três são capazes de surpreender. O (Hicham) Arazi chegou três vezes às quartas-de-final de Roland Garros.
Mas sem querer menosprezar o Marrocos, você acha que o Brasil tem chance?
Somos uma equipe muito competitiva, tanto que chegamos à semifinal nesse ano. Mas não dá para falar em favoritismo. Quando fomos jogar com a Espanha, lá estava um clima de `pegamos uma chave boa, vamos jogar em casa'. Não por parte dos jogadores, mas da imprensa. E nós ganhamos. Venha quem vier, a gente confia no nosso taco, mas não dá para contar vantagem.
Compare a equipe desse ano com a do ano que vem.
Não teve nenhuma mudança drástica, mas temos mais experiência e isso é importante na Davis.
Conversando com Larri O cronograma de preparação está pronto?
Ainda estou definindo o trabalho com o Larri (Passos, técnico de Guga e integrante da Comissão Técnica), mas devemos nos reunir sete dias antes, como sempre.
O Larri também mantém a mesma postura de antes, como o Guga?
Não mudou em nada a comunicação entre a gente. Mesmo quando eles estão fora, a gente se fala. Está harmonioso.
Você acha que o sucesso do Guga terá algum efeito positivo sobre o tênis brasileiro?
As pessoas estão ofegantes com o número 1. Todo o astral do tênis vai dar frutos para o Brasil, com as pessoas jogando tênis e entrando no circuito profissional. Mas a mudança não vai ser grande. Não temos Centro de Treinamento e a estrutura é a mesma. É preciso um projeto maior para que haja unificação do ensino, do treinamento. Tenho algumas idéias, mas falta respaldo da iniciativa privada e do Governo.
E da Confederação Brasileira de Tênis?
Talvez falte profissionalismo, se comparado às outras. Mas é difícil, falta dinheiro para eles também.
Talvez falte habilidade para conseguir investimento. O momento é mais que propício.
Sim, mas a iniciativa privada só trabalha visando em cima do que dá resultado imediato. Há alguns anos quem queria patrocinar o Guga?
O fato de você fazer parte do Conselho de Jogadores da ATP pode ajudar em algo (desde junho, ele é, ao lado de Meligeni, do também brasileiro Antônio Prieto e do equatoriano Nicolas Lappenti, um dos dez jogadores e ex-jogadores da entidade)?
Temos voz ativa. Conseguimos uma data no calendário da ATP para o continente basicamente porque entramos no Conselho.
A realização desse torneio em Buenos Aires e não em São Paulo, portanto, não deve ser vista como perda do Brasil e sim como conquista da América do Sul, já que não havia essa data?
Exatamente, mas vamos trabalhar por uma data para o Brasil.