Brasília - Deputados e senadores que integram a CPI da Nike, na Câmara, e a CPI do Futebol, no Senado, estão satisfeitos com o resultado das investigações feitas até aqui. É verdade que nada de novo surgiu. Mas eles acreditam que, dentro de pouco tempo, o cruzamento de documentos da Receita Federal, Banco Central e do que foi dito em depoimento vão mostrar quem está por trás dos fatos apurados. "Estamos indo bem", assegura o presidente da CPI da Nike, deputado Aldo Rebelo (PcdoB-SP). Segundo ele, representantes do Banco Central, Receita Federal e da Polícia Federal estão "assessorando de perto" os trabalhos. O relator Silvio Torres (PSDB-SP) prevê que as apurações vão avançar esta semana, quando a comissão vai "herdar" a assessoria técnica que atuou na CPI do Narcotráfico. Para facilitar o envio de denúncias, as CPIs estão providas dos seguintes e-mails: cpi.cbfnike@camara.gov.br e cpidofutebol@senado.gov.br.
O relator da comissão do Senado, Geraldo Althoff (PFL-SC), lembra que a suspeita de que existe sonegação e lavagem de dinheiro surgiu num dos primeiro depoimentos, o do ex-técnico da seleção brasileira Wanderley Luxemburgo. "E ele é para nós uma figura emblemática do futebol", constata.
Com a experiência de quem já acompanhou várias CPIs, o coordenador das comissões especiais do Senado, Luiz Cláudio Brito, concorda que o andamento das investigações está dentro do esperado.
Segundo ele, os depoentes normalmente saem dos depoimentos certos de que convenceram os parlamentares sobre a sua inocência. "Até que os documentos revelam o que realmente ocorreu na transação que estiver em foco", afirma.
Há ainda o fator surpresa, quando pessoas que nem eram alvo das diligências terminam envolvidas. Foi o que ocorreu na CPI do Judiciário, que resultou na cassação do mandato do ex-senador Luiz Estevão (PMDB-DF). O senador José Eduardo Dutra (PT-SE) soube, fora do Senado, que ele estaria envolvido no desvio das obras do fórum trabalhista de São Paulo. A confirmação foi feita nos documentos cruzados pela comissão. "A não ser que haja algo muito contundente, todo mundo se sai bem no primeiro depoimento", constata Dutra. Ele lembra que a arrogância, tanto dos depoentes como dos advogados, também é fato comum nessa fase dos trabalhos.
O senador Geraldo Cândido (PDT-RJ) aponta o dono da empresa Traffic, J. Hawilla, como um típico exemplo de depoentes que pensam ter enganados os senadores. Cândido disse que duvidou das afirmações do empresário de que a Traffic teve prejuizo no ano passado. Segundo ele, se isso tivesse realmente ocorrido, jamais o fundo de pensão norte-americano HMTF teria aplicado R$ 81 milhões na aquisição de 49% de suas ações. Para o senador, o depoimento do empresário na comissão foi "uma conversar pra boi dormir".