Porto Alegre - Chegou ao fim o reinado de um dos mais completos e eficientes boxeadores que já subiram aos ringues em todos os tempos. O peso pesado cubano Félix Savón, tricampeão olímpico, hexa mundial amador e dono do invejável cartel de 358 vitórias e 17 derrotas, confirmou ontem sua aposentadoria.
Aos 33 anos, a um ano da idade limite permitida pela Associação Internacional de Boxe Amador para participar de competições nacionais e internacionais, Savón, assume o posto de técnico da seleção olímpica de boxe de seu país, com a missão de manter Cuba entre as grandes potências do boxe mundial.
Desde que ganhou seu último ouro olímpico, em Sydney/2000, já se especulava que o pugilista poderia anunciar sua retirada a qualquer momento. Ontem, em Havana, o presidente da Federação Cubana de Boxe, José Barrientos, fez o anúncio oficial. Pesou na decisão de Savón a opinião de especialistas e amigos. Para estes, o lutador não deveria nem participar do próximo Campeonato Mundial, a ser disputado em fevereiro, em Santiago de Cuba. A razão para tal posicionamento estava no fato de eles considerarem não ser mais necessário Savón arriscar seu grande prestígio, além de dar oportunidade de se conhecer um possível sucessor na categoria antes do começo de um novo ciclo olímpico.
"Félix Savón não necessita mais glórias do que as muitas que acumulou ao longo de toda sua carreira", destacou um artigo publicado no jornal Juventude Rebelde.
O diário Trabalhadores também se posicionou: "Savón poderia ganhar o sétimo título mundial, mas tentar seria um risco desnecessário e impediria que seu sucessor se preparasse em um torneio de peso para os Jogos Olímpicos de 2004."
Entusiasta e defensor dos ideais da revolução cubana e de Fidel Castro, Savón nunca aceitou profissionalizar-se. Foi sempre tentado com propostas milionárias vindas dos Estados Unidos. Todas elas ignoradas.
"Ninguém pode me oferecer mais do que eu já possuo. Tenho gratidão pelo meu país e não há dinheiro no mundo que pague isso", repetia com freqüência o pugilista.
Em contraste com os ídolos da sua estirpe que ganham milhões de dólares no boxe profissional, Savón sempre manteve um estilo de vida simples ao lado da família – é casado com a professora Maria Dranguet e tem dois filhos, Mário Félix e Félix Mário. Na sala de sua casa, a principal decoração são os muitos troféus e medalhas conquistadas desde os 14 anos e uma foto sua ao lado de Fidel.
Tímido e reservado fora dos ringues, Savón encantou os amantes do boxe com seu estilo agressivo, de potentes diretos e jabs. Considerado um fora-de-série, Savón, mesmo como amador, sempre figurou nas listas dos grandes ídolos do boxe, ao lado de Muhammad Ali, Joe Frazier, George Foreman, Mike Tyson e de seu compatriota Teófilo Stevenson, também tricampeão olímpico.