Porto Alegre - Ela é afofada todos os dias e, na véspera de cada partida, ainda é penteada. Já ganhou de presente até um poço artesiano exclusivo para hidratá-la pela manhã. A grama do Estádio Sady Schmidt, de Campo Bom, não só faz jus ao nome da cidade como é considerada uma verdadeira arma do 15 de Novembro na disputa da Série A do Gauchão. O time ocupa a quarta colocação e estaria classificado para o octogonal final, se o campeonato terminasse hoje.
Em um campeonato historicamente marcado pelos campos precários do Interior, o tapete verde do 15 de Novembro se destaca pela inexistência dos famosos espaços carecas e por contar até com um guardião. É o jardineiro Roberto Carlos Queiroz, 20 anos, que há dois meses e meio mantém fechados todos os sete portões ao redor do gramado. Nem os dirigentes do clube escapam de ser barrados por ele.
"Quando um marcador dá um carrinho e levanta a grama, me dá até uma dor no peito. Só perdôo quando o nosso time vence no final", conta o jovem, cujo sonho desde a infância é ser jogador de futebol.
Seu trabalho é ininterrupto. Tanto que Queiroz é mantido pelo chefe, Pedro Fussinger, da Floral Floricultura e Jardinagem, sempre fixo no estádio. No dia seguinte às partidas, o jovem guardião convoca um mutirão de jardineiros para reparar os estragos das chuteiras na grama, do tipo bermuda. Miúda, de crescimento rápido e com raízes profundas, é considerada a melhor espécie para os campos de futebol. É a mesma que cobre os estádios Olímpico e Beira Rio.
"O que temos aqui no 15 de Novembro, nenhum campo do Rio Grande do Sul tem em termos de tecnologia. É o clube que mais investe no seu gramado, com máquinas que vieram dos Estados Unidos e da Holanda", avalia a engenheira agrônoma Maristela Kuhn, que atua como consultora do clube e de outros seis campos de futebol. – E olha que, quando vim conhecer esse estádio, era todo carecão.
Alguns truques, como a semeadura sobre a grama a cada inverno, mantêm a boa fama do gramado do 15 de Novembro. Além disso, são mil metros lineares com drenagem já instalada. "Em uma grama dessa qualidade, você coloca a bola exatamente onde quer que ela vá. Fica bem mais fácil marcar gols porque um bom gramado ajuda em 90% da jogada de um deles", conta o atacante Marcelo Silva, do 15 de Novembro, um dos goleadores do Gauchão 2001, com quatro gols marcados até agora.
Se a comparação entre o 15 e o líder do Gauchão, o Pelotas, fosse só pelo quesito gramado, o clube da Zona Sul levaria uma goleada da equipe de Campo Bom. O próprio diretor de futebol do Pelotas, Manoel Nunes, o Neca, reconhece que o campo do Estádio Boca do Lobo não é uma referência positiva para o time. "Temos aqui uns 15 tipos de grama diferentes. Temos do tipo bermuda, do tipo catarina, há de tudo nesse campo da Boca do Lobo. E, agora, nem dá mais tempo de trocar", disse.