Porto Alegre - Um horizonte sem emprego para cerca de 200 jogadores e sem jogos para nove clubes gaúchos se aproxima. O final da seletiva do Gauchão dentro de 11 dias vai deixar parados times e profissionais de futebol por quatro meses, no mínimo.

Para encontrar alternativas de sobrevivência, clubes do Interior vão se reunir na próxima sexta-feira, em Canoas. O presidente do Veranópolis, Daniel Scarton, ameaça até não entrar em campo nos jogos finais da seletiva para protestar.

O problema é que não há campeonatos ao alcance dos nove desclassificados da primeira fase do Gauchão, que termina dia 24 de fevereiro. Apenas quatro dos 13 times avançam para o octogonal final com Grêmio, Inter, Caxias e Juventude. Com isso, enquanto o Gauchão prossegue em março, abril, maio e junho, os nove eliminados vão ter que achar outro jeito de sobreviver. Pior ainda será a vida dos dois times rebaixados para a Divisão de Acesso. Estes poderão voltar aos campos só no início do ano que vem, dentro de 10 meses.

”Estamos perdidos como um cego em tiroteio. Nossa vida ficará muito complicada”, alerta o coordenador técnico do Novo Hamburgo, Cláudio Djair Barbosa, o Cacau, um dos ameaçados com o rebaixamento.

O movimento para tentar impedir o fechamento do departamento de futebol dos clubes e o desemprego de centenas de jogadores é encabeçado por Novo Hamburgo, Veranópolis e São Paulo, que convocaram a reunião da próxima sexta-feira. O encontro será aberto a todos os clubes do Interior e foi batizado de “S.O.S. Futebol Gaúcho”. A idéia é manter a atividade até o final do ano e levar à Federação Gaúcha de Futebol (FGF) uma proposta de fórmula do próximo Gauchão com a presença das duplas Gre-Nal e Ca-Ju desde o início de 2002.

”O que estão fazendo Grêmio, Inter, Juventude e Caxias agora?”, questiona Cacau.”Só estão jogando amistosos. Enquanto os outros estaduais contam com os grandes desde o começo, só aqui no Sul isso não acontece. Não há explicação.”

Se ficarem sem competição por quatro meses, clubes e jogadores terão escassas chances de sobrevivência. A maioria dos profissionais seguirá para outros estados ou procurará emprego em times da Divisão de Acesso e da Segundona gaúchas, nos quais as condições de trabalho são difíceis. Já os clubes só deverão manter as categorias de base, dispensando e emprestando jogadores.

No Interior, já se observa o movimento dos profissionais para mudar a situação falimentar. No último domingo, antes da partida entre São Paulo e Santa Cruz, o técnico do São Paulo, Ernesto Guedes, mandou pintar uma faixa e convocou os filhos dos jogadores para segurá-la no gramado.

”Se permanecer desse jeito, vamos parar o campeonato e não entrar em campo”, ameaça o presidente do Veranópolis, Daniel Scarton, que vai lançar a idéia da greve na reunião de sexta-feira.

A FGF garante que foram os próprios clubes que escolheram ficar meses sem jogos. Segundo a presidente em exercício da FGF, Lacy Ughini, a entidade apresentou no ano passado uma proposta de campeonato com a participação dos clubes do Interior a temporada toda, que não foi aceito.

”Vamos ouvir o que os dirigentes têm a dizer, mas acho difícil modificar algo com o campeonato em andamento. Alertamos para o risco do desemprego, mas foram os próprios clubes que preferiram assim”, afirma Lacy.

Agência RBS