Rio - O empresário uruguaio Juan Figger prestou depoimento na tarde desta terça-feira na CPI da Câmara, que investiga supostas irregularidades no futebol brasileiro. Durante seu depoimento, Figger caiu em contradição quando falou sobre os clubes Rentistas e Central
Espanhol, do Uruguai.
Ele negou que usava essas equipes para intermediar a venda de jogadores brasileiros para o futebol europeu, mas logo em seguida disse que apresenta atletas do Brasil para esses clubes garantindo que eles têm boas chances de serem negociados para a Europa. As informações estão sendo divulgadas pela Agência Câmara.
Figger prestou depoimento protegido por uma liminar concedida pelo Superior Tribunal Federal (STJ), que impede os deputados de manusearem documentos sobre a quebra dos seus sigilos bancário, fiscal e telefônico ou fazer perguntas baseadas nestes dados. A liminar é válida até que se julgue o mérito da questão. Figger garante que quem impetrou esta liminar não foi ele, e sim a Associação Brasileira de Agentes de Futebol.
O momento mais crítico do depoimento, e que forçou a contradição de Figger, foi quando o deputado Eduardo Campos (PSB-PE) apresentou uma lista com o nome de dez jogadores, com passagens pela Seleção Brasileira Principal e Sub-20 e pertenceram aos clubes uruguaios. Campos lembrou que o atacante Lucas, do Atlético-PR, foi vendido para o Rennes, da França, mas que no contrato ele era obrigado a passar pelo Rentistas. O valor da transação, avaliada em US$ 7,5 milhões (aproximadamente R$ 14,8 milhões) não foi
registrado no Brasil.
Os parlamentares suspeitam que Figger tenha cometido crime de evasão de divisas e elisão fiscal. O deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), presidente da CPI, garantiu que vai insistir em quebrar os sigilos fiscal, bancário e telefônico do jogador.
Também foi lembrada pelos parlamentares a negociação do lateral-esquerdo Zé Roberto para o Real Madrid. O jogador foi vendido pela Portuguesa ao Central Espanhol, por US$ 4,6 milhões (aproximadamente R$ 8,7 milhões). Logo em seguida, o clube uruguaio vendeu o jogador ao Real por US$ 9,98 milhões (aproximadamente R$ 19,9 milhões). Zé Roberto retornou ao Brasil, pouco depois, para defender o Flamengo. Figger não soube explicar o porquê da Portuguesa não ter negociado o jogador diretamente com o clube espanhol.
Outro momento tenso do depoimento foi quando o deputado Geraldo Magela (PT-DF) perguntou a Figger se existia um esquema para convocação de jogadores para a Seleção Brasileira com o objetivo de valorizar seus passes. Magela lembrou que o atacante Warley foi convocado para a Seleção e logo em seguida o valor do seu passe, que era de US$ 120 mil (aproximadamente R$ 238 mil), subiu para US$ 3,5 milhões (aproximadamente R$ 6,6 milhões). Na ocasião, Warley foi negociado para a Udinese. Figger negou qualquer
envolvimento em esquema de convocação de jogadores para a Seleção Brasileira.
Figger contou que possui uma rede de olheiros em São Paulo para observar novos talentos, que possam ser negociados no futuro. O empresário garantiu que nunca participou de esquema de falsificação de passaportes, ou agenciou jogadores com a idade adulterada, os chamados "gatos". Ele explicou que deixa aos cuidados dos clubes de origem a investigação da vida do atleta, assim como a conferência de sua documentação.
O empresário está sendo acusado de providenciar passaportes falsos para pelo menos quatro atletas brasileiros: Warley, do Grêmio; Jorginho Paulista, do Vasco, e Alberto, que foram negociados para o Udinese, da Itália; e Edu, que foi vendido para Arsenal, da Inglaterra. Edu não chegou a entrar naquele país por ter sido desmascarado no aeroporto ao apresentar o passaporte falsificado. Figger negou que tenha cometido tais irregularidades.
Figger lembrou que trabalha agenciando jogadores desde o início da década de 70 e contou que foi o primeiro empresário a receber autorização da Fifa para atuar na negociação de jogadores em todo o mundo. Ele garantiu ser contra a ida de menores de 18 anos para o futebol do exterior e que ajuda na adaptação de brasileiros em outros países.
“Não raro, os jogadores encontram dificuldades de adaptação em outros países, como clima, cultura, língua e até mesmo estabilidade emocional. Esse papel extrapola minhas obrigações contratuais, mas esses cuidados são para defender os direitos dos atletas”, afirmou Figger, durante o depoimento.