Porto Alegre - O São José tinha tudo para enfrentar o Esportivo, hoje à noite, na Montanha, na mais absoluta tranqüilidade. Depois de 19 anos, se classificou entre os oito melhores do Gauchão e, melhor, largou como líder do octogonal. Mas um larápio está tirando o sossego dos jogadores do Zequinha. Sobranceiro e silencioso, espera os jogadores entrarem no Passo D’Areia para treinar e limpa os carros estacionados no acesso lateral ao Estádio.
Nem o vice-presidente de futebol do clube, Francisco Noveletto, escapou. Seu Vectra ficou sem o CD player. O zagueiro Paulo Roberto e o centroavante Gílson também sofreram o mesmo prejuízo. Para evitar transtornos, os jogadores se cotizaram e contrataram um flanelinha. Por enquanto, a gratificação está longe do esperado. Raros retribuem com mais de um R$ 1. O que gerou protestos do guardador.
”Se não melhorar hoje, vou embora”, ameaçou Luiz Carlos Delpino, 50, para o meia Senegal ontem à tarde.
Baiano, sorriso fácil, com passagens por vários clubes, Senegal contornou a situação. E protestou.
”Os caras acham que estamos com a grana só porque classificamos e largamos bem. Quem está com o dinheiro é o pessoal do Grêmio e do Inter”, divertiu-se, apontando para o estacionamento dos jogadores, ocupado por modelos populares e outros já bem rodados.
Menos mal para o Zequinha que a mão leve do visitante indesejado não afeta seu principal jogador. O meia Chiquinho, 34 anos, artilheiro do Gauchão com 12 gols, anda sempre de carona. Concentra-se apenas nos movimentos dos zagueiros. Este é o seu 10º Gauchão”, o melhor de todos na sua avaliação.
Chiquinho passou por vários clubes do Interior e rodou pelo Brasil. Fez parte do carrossel caipira do Mogi Mirim, atuando ao lado de Fernando, ex-Inter, Válber, Leto e Rivaldo. Depois, jogou no Fluminense. Agora, desfruta da condição de ídolo do Zequinha. Pelas palavras do técnico Luiz Carlos Winck é uma versão gaúcha de Romário:
”Altamente técnico, definidor, meia goleador, tem faro de gol. Está sempre bem posicionado, presente nas horas em que se precisa dele.”
Chiquinho só sente falta das cobranças. No Interior, os jogadores são mais questionados pela torcida. Aqui, basta se distanciar uma quadra do Passo D’ Areia para virar anônimo. A situação começa a mudar. Ontem, antes do treino, bastou ele pisar no gramado para ter seu nome gritado por uma dezena de garotos da escolinha. Eram poucos, mas já é um começo.
Na outra partida da rodada, o Juventude recebe o Pelotas, no Estádio Alfredo Jaconi, em Caxias do Sul.