Rio - O bom desempenho do time do Santa Cruz no
Campeonato Pernambucano e na Copa do Nordeste, depois de alguns anos
afastado das grandes competições de futebol do País, pode surpreender a sua
própria torcida, mas não o técnico Ricardo Rocha. O treinador considera
natural a boa campanha do time e acha que a recuperação só foi possível a
partir do momento em que a direção do clube resolveu apostar no trabalho
desenvolvido nas divisões de base pela dupla Nereu Pinheiro-Ramon.
Nereu já foi treinador da equipe principal do Santa Cruz em várias ocasiões
e hoje é o gerente do futebol amador do clube, e Ramon, ex-atacante do Vasco
e do próprio Santa Cruz, é atualmente o técnico dos juniores. Ricardo
atribui a boa fase do Santa Cruz à nova geração de jogadores revelados nas
divisões de base do clube. O treinador fez contrato sob a condição de
desenvolver um trabalho a médio prazo e vem obtendo resultados que ele mesmo
esperava surgirem um pouco mais tarde.
O técnico trabalha em sintonia com Ramon e promete aproveitar mais juniores
do que os que já vêm se destacando. Ele tem hoje no elenco de profissionais
os zagueiros Valnei, os meias Ricardinho, Batata e Marcelinho, o atacante
Carlinhos e vai dar oportunidade a outros jovens. Cléber, lateral-esquerdo,
e Laércio, meia, serão os próximos, mas as observações não vão parar por aí,
promete Rocha:
“Ramon e Nereu fazem um ótimo trabalho e eu e o Zé do Carmo, que é meu
auxiliar-técnico, estamos fazendo um acompanhamento da garotada. O Santa
Cruz em pouco tempo vai recuperar a sua imagem de clube vencedor.”
O ex-zagueiro fala do futuro do Santa Cruz, mas não promete ficar por muito
tempo no clube. Ele tem planos de fazer seu trabalho aparecer e se projetar
pelo País para em pouco tempo dirigir um grande clube do Rio ou de São
Paulo. Ele jogou no Guarani e São Paulo, em São Paulo, e no Fluminense,
Flamengo e Vasco, no Rio de Janeiro, Ricardo atuou também no Real Madrid e
no Sporting Lisboa, além de defender a Seleção Brasileira nas Copas de 1990
e 1994.
Dos 28 jogadores do elenco do Santa Cruz, Ricardo Rocha e Zé do Carmo contam
hoje com 15 ex-juniores. Para enfrentar a dureza da disputa de três
competições simultâneas - Campeonato Pernambucano, Copa Nordeste e Copa do
Brasil -, ele quer fazer um revezamento entre os jogadores e sempre que
puder dará descanso a alguns deles.
Quando chegou ao tricolor pernambucano, no início do ano, só encontrou cinco
bolas para treinamento e apenas 18 jogadores. Além disso, o clube não reunia
as mínimas condições para contratar reforços:
“A situação era caótica. Aos poucos eu fui fazendo todos os papéis. Faço o
papel de treinador, supervisor, gerente e tudo que for preciso. Foram feitas
poucas contratações. O clube não tinha dinheiro e eu preferi apelar aos
dirigentes para manterem os salários em dia. Com salário atrasado ninguém
pode realizar um trabalho sério e trabalhar tranqüilo. Foi assim, com o
apoio da nova diretoria, que conseguimos reorganizar a vida do Santa Cruz.
Para Ricardo, o clube se desestruturou em razão de más administrações, que
fizeram muitas contratações sem critério. Agora, o clube só contrata com o
seu aval. Ele faz questão de observar e opinar em todas as contratações. O
Santa Cruz só vai em busca de um reforço depois que Ricardo Rocha e Zé do
Carmo observarem.