São Paulo - Um pênalti cobrado com suavidade, elegância e plástica, cuja bola espera o reflexo e a queda do goleiro para um dos lados para entrar mansamente no meio do gol.
Posta em prática pelos pés habilidosos de Marcelinho no sábado passado, em Mogi Mirim, a jogada mexeu com os nervos do técnico Wanderley Luxemburgo, que se mostrou contrário a esse tipo de cobrança e nos últimos dias gastou parte do tempo para alertar o jogador dos perigos de fugir do convencional na jogada mais fatal do futebol. Em vão.
"Ele está falando isso pois está ficando velho. O coração dele não está agüentando mais", brinca o Pé-de-Anjo, com jeito de garoto travesso.
A julgar pelo retrospecto, o argumento de Luxa se esvazia. Além de nunca perder uma cobrança desse tipo, o Pé-de-Anjo se deu mal em dois pênaltis decisivos batidos de maneira convencional, ambos em 2000: contra o Vasco, na final do Mundial de Clubes, e contra o Palmeiras, na semifinal da Copa Libertadores.
"Só bate assim quem tem qualidade e personalidade para fazer. E, por isso mesmo, não tem de se omitir. Responsabilidade a gente tem sobre todo lance do jogo, em todo pênalti", argumenta o meia corintiano. "Estou dentro de campo e sei o que tem de fazer".
A primeira vez que Marcelinho cobrou pênalti dessa maneira foi na semifinal do Paulistão-98, contra a Portuguesa, também sob o comando de Wanderley Luxemburgo. De lá para cá, o jogador afirma que passou a decidir a maneira como vai bater ao arrumar a bola na marca.
"Às vezes, você bate forte e põe muita precisão, mas o goleiro defende", diz Marcelinho, que sofreu meses com pressões e hostilidades da torcida após desperdiçar o pênalti contra o arqui-rival na Libertadores.
Cobrador oficial de pênaltis do Corinthians há anos, Marcelinho respeita a opinião do técnico, mas dá preferência ao próprio prazer. "Tudo que é mais bonito, mais gostoso, tem risco pra caramba. Vou fazer o que a minha cabeça e o meu coração mandarem", resume.