Florianópolis - Com 32 títulos em 11 anos de carreira profissional e eleito pela Fifa o melhor jogador de futsal do mundo na atualidade, o ala Manoel Tobias da Cruz Filho, o Manoel Tobias, tem um novo desafio: ser campeão na Malwee/FME, de Jaraguá do Sul. A tarefa, entretanto, não será nada fácil. Nos cinco primeiros jogos em que atuou pela equipe catarinense, perdeu três, empatou um e venceu outro.
“Preciso de um tempo para me adaptar. Talvez quatro partidas”, disse o jogador, na chegada a Jaraguá do Sul. Aos 29 anos de idade, Tobias já defendeu nove times do Brasil. Fez testes para jogar futebol de campo, em 1996, no Grêmio-RS, mas não deu certo. Decidiu voltar às quadras. E não se arrependeu. Foi pentacampeão da Taça Brasil, bicampeão mundial pela Seleção Brasileira e tricampeão da Liga Nacional. Ele garante que pretende jogar ainda mais cinco ou seis anos, para o delírio de seus fãs.
Como você avalia o atual momento do futsal catarinense?
Manoel Tobias - É um momento de reformulação e ascensão do futsal de Santa Catarina. Aqui já tivemos grandes equipes como a Perdigão e a Sadia, que marcaram história no futsal brasileiro. Agora é a vez da Malwee. Jogadores importantes como o Ortiz, o Júlio César, o Sandrinho, o Franklin, já estão aqui. Quer dizer, são atletas conhecidos. Espero fazer parte da história de Jaraguá do Sul e de Santa Catarina.
Caso a equipe da Malwee seja eliminada precocemente da Liga, você permanece disputando o Estadual?
Tobias - Isso não vai acontecer. Vamos chegar às finais das duas competições, não tenho dúvida disso.
Ser considerado o melhor jogador do mundo na atualidade aumenta a carga de responsabilidade no time da Malwee?
Tobias - É mais uma. Estou acostumado com isso. Vinha apenas treinando em Fortaleza, o que não é a mesma coisa. Nos quatro primeiros jogos vai faltar entrosamento, vai ser difícil. Além disso, não vou estar na minha melhor forma física e técnica. Tenho que conhecer os meus novos companheiros de equipe. Mas até o dia 20 de abril, no início do segundo turno, eu já vou estar 100%.
E a carreira: já definiu o momento de parar?
Tobias - Olha, eu pretendo jogar mais cinco ou seis anos. Esse é o meu plano. Dinheiro é importante, mas acima disso, o mais importante é o prazer de jogar futebol. Enquanto houver este interesse, vou continuar.
Você chegou a fazer uma experiência no futebol de campo, em 1996, pelo Grêmio-RS. Que lição você tirou daquele momento?
Tobias - A lição que tirei é que meu destino era realmente o futsal. Foi a primeira grande lição. A segunda é que você tem que ter tranqüilidade nos bons e nos maus momentos. Vivi um período totalmente adverso naquela época. Mas tive um crescimento pessoal, de caráter, de formação como homem, como atleta. Foram quatro meses em que aprendi muito.
Isso lhe causou alguma frustração profissional?
Tobias - De maneira alguma. Não é demérito algum você tentar algo e não conseguir. Para mim foi muito bom. Aprendi a ter mais humildade e a respeitar cada vez mais as pessoas.
A forte ligação que você tem com a religião evangélica pode levá-lo a ser um pastor, como o jogador de futebol Müller, no futuro?
Tobias - Pode acontecer. O mais importante não é ser religioso, não é ser evangélico. É praticar o que diz a palavra de Deus. Temos que procurar, mesmo com as nossas limitações, fazer a vontade de Deus.
Os investimentos temporários estão prejudicando o crescimento do futsal? Tem alternativa?
Tobias - Tem. Espero que esse investimento da Malwee não seja temporário, mas a longo prazo. O problema é que isso acontece em todas as áreas do esporte, não apenas no futsal. Acho que falta uma maior organização, um maior incentivo do Governo Federal. É lamentável isso acontecer. Tivemos os exemplos da Perdigão, da Sadia, da Tigre, de Santa Catarina, da Inpacel, do Paraná, que surgiram com grandes propostas e depois sumiram. Por outro lado, assim como terminam algumas equipes, sempre surgem outras. Não é a melhor alternativa, mas pelo menos mantém o esporte em alta. Infelizmente temos que conviver com esta situação.
O futsal brasileiro está perdendo espaço no cenário mundial?
Tobias - A vitória da Espanha no último Mundial mostrou isso. Foi muito bom porque abriu mais espaço na Europa e agora já se cogita, até mesmo, a possibilidade do futsal tornar-se um esporte olímpico. Agora, além do Brasil, temos outras forças como a Espanha, a Rússia e Portugal. Daqui há quatro anos, acho que Portugal vai estar na final do Mundial. Eles ficaram em 4º lugar nesta última disputa. Quer dizer, muita coisa pode e vai acontecer. Novas gerações, novas equipes estão surgindo e quem ganha é o esporte.