Belo Horizonte - O banqueiro Ricardo Annes Guimarães, 40 anos, assumiu ontem a presidência do Atlético, inicialmente por 90 dias, mas admite que não vai administrar o clube sozinho. Ele afirmou que Alexandre Kalil, presidente do Conselho Deliberativo, será seu parceiro na nova administração. Ricardo Guimarães vai subistituir Nélio Brant, que pediu licença do cargo por três meses, como determina o Artigo 71 do regulamento do clube, já que ele ainda não completou metade do mandato.
Alegando cansaço e por estar desgastado com a grave crise financeira do Atlético, Brant pediu licença, ontem, ao Conselho Deliberativo. No entanto, o dirigente não estava conseguindo resolver os problemas do clube e nem administrá-lo politicamente. Por isso, sofria pressões para deixar o cargo. Brant pode voltar à presidência dentro de 90 dias, ou então apresentar novo pedido de licença. Mas, especula-se, vai mesmo renunciar.
Nélio Brant assumiu a presidência do Atlético para um mandato “tampão", de dezembro de 1998 a dezembro 2000, no lugar de Paulo Cury, que havia renunciado ao cargo. Em dezembro passado, ele foi eleito para o triênio 2001/2003.
Primeiro vice-presidente, Ricardo Guimarães assume uma dívida de aproximadamente R$ 30 milhões, que, segundo ele, é administrável. Mas não pretende passar à torcida uma expectativa falsa quanto à solução imediata da crise financeira. Ele admite que a venda de jogadores é uma alternativa, embora frise que não é essa, a princípio, a política da diretoria. O vice-presidente Sérgio Batista Coelho continua sendo responsável pelo Departamento de Futebol.
Você assume o Atlético, mas há especulações de que Alexandre Kalil, presidente do Conselho Deliberativo, seria o homem forte do futebol, e Sérgio Coelho iria para a área administrativa.
Faremos uma parceria com Alexandre, em que ele nos ajudará em todos os setores. Ele nunca saiu do Atlético e vai administrar o clube conosco. Sérgio continua com o futebol.
Nélio Brant revelou que a dívida real do Atlético está entre R$ 25 milhões e R$ 30 milhões. É isso realmente?
A situação do Atlético é difícil, mas sua dívida é absolutamente administrável. Se não acreditássemos nisso, não assumiríamos. Confiamos e assim que for encontrado o caminho para sua solução, tudo dará certo.
Há alguma solução, de imediato, para os problemas financeiros do Atlético?
O Atlético tem uma dívida de curto prazo muito alta e vem de longa data os seus problemas financeiros. Não somos mágicos, mas estamos tentando criar alternativas para buscar dinheiro a curto prazo. Estamos viabilizando a antecipação de cotas que o clube tem a receber.
A venda de jogadores seria uma solução?
Não é política nossa vender jogadores, mas é uma alternativa.
O torcedor não quer saber se os salários estão atrasando e nem da situação do clube. Haverá alguma mudança no Departamento de Futebol?
Como vice-presidente de Futebol, Sérgio Coelho continua executando o seu bom trabalho. Vamos ter uma conversa com a comissão técnica e não faremos contratações, porque a situação financeira do Atlético não permite. É importante para a administração ter o respaldo dentro de campo. É uma administração que exige paciência, não podemos ser afoitos.
Você fala em cortar custos. Isso irá ocorrer também no futebol profissional?
Também. Haverá cortes na parte administrativa e podemos até rever o futebol, que está inflacionado. É necessário estar com os pés no chão. As receitas são baixas e não basta cortar os custos.
Quais os projetos para o futuro?
Não temos como divulgar os nossos planos passo a passo. Mas entre eles estão o trabalho nas categorias de base, a incrementação do setor de marketing e a busca receitas.
Você assume num momento em que não somente o Atlético, mas o futebol brasileiro está em crise. Não é um ato de muita coragem de sua parte?
É um desafio enorme, mas não estou assumindo sozinho. Há os outros vice-presidentes, que terão autonomia. Temos forças para derrotar essa situação.
O torcedor pode esperar o que do novo presidente do Atlético?
É difícil chegar com a solução pronta, porque na prática é bem diferente. Prometemos, fazer um Atlético competitivo e defendê-lo. Já sabemos do que ele precisa. Não vamos falar, para não se criar uma falsa expectativa.
De que o Atlético mais precisa neste momento?
É o momento de união. Somente assim podemos reerguer o Atlético e colocá-lo novamente no caminho das conquistas. Claro que com a ajuda do Nélio, com quem muitos avanços já foram feitos. Ele recuperou a credibilidade do clube e do time. Além de regularizar a contabilidade.
Primeira medida foi baixar preço de ingressos
Antes mesmo que fosse empossado, o presidente interino do Atlético, Ricardo Guimarães, contando com a participação direta de Alexandre Kalil - o curinga da diretoria -, tomou como primeira medida a redução dos ingressos - arquibancada R$ 3,00, cadeira de setor R$ 5,00 e cadeira especial R$ 15,00-, para o jogo de amanhã à noite, no Mineirão, contra o Goiás, pela Copa do Brasil. Jogo importante para as pretensões do Galo na competição nacional. No primeiro jogo em Goiânia, o time alvinegro perdeu de 3 a 1 e precisa vencer por 2 a 0 ou uma diferença de três gols.
“Mantive contato com o pessoal do Goiás para ver se chegávamos a um acordo para a redução do preço dos ingressos. Eles não concordaram, então propus que o jogo a gente transferisse a partida para o Estádio Independência. Eles entenderam que o melhor seria atender a primeira sugestão", comemorou Alexandre Kalil como a primeira vitória nos bastidores sobre o time Goiás. O presidente do Conselho Deliberativo, que será um assessor direto de Ricardo Guimarães e com autonomia para atuar em todos os setores do clube, disse que está retornando para somar.
“Não vim para assumir o futebol onde já existe um vice-presidente. Vim para somar e tenho o meu estilo de trabalho. O momento é de levantar o Atlético. O trem já está no trilho, agora é só empurrar o vagão", disse Alexandre Kalil.
Completo
Os jogadores se reapresentaram ontem à tarde, no Centro de Treinamentos, em Vespasiano. Aqueles que participaram integralmente da vitória de 3 a 1 sobre o Rio Branco, de Andradas, no último domingo, fizeram apenas corrida, enquanto os demais fizeram um coletivo contra a equipe de juniores. Marques, que deixou o campo mais cedo, contra o time do Sul de Minas, queixando-se de dores no adutor da coxa esquerda, não causa preocupação para a partida de amanhã contra o Goiás.
Nélio Brant se despede da presidência
Visivelmente emocionado, Nélio Brant se despediu ontem, temporariamente, da presidência do Atlético. “Não fiquei esse tempo todo no Atlético por vaidade. Mas, sim, por dedicação ao clube e por essa torcida. Muitas vezes a gente é incompreendido", diz Nélio Brant, que vai ficar trabalhando, conforme ele disse, nos bastidores junto à Confederação Brasileira de Futebol e Clube dos Treze.
Nélio Brant assumiu o comando do Atlético em dezembro de 1999, com a renúncia de Paulo Cury.
Seu pedido de licença poderá ser prorrogado passados os 90 dias previstos no Estatuto do clube. Isso, no entanto, garante Nélio será uma decisão consensual com o novo comando do Atlético e também “pelo que for melhor para o clube". Nélio Brant deixa o clube com uma dívida de cerca de R$ 30 milhões _ e com os salários dos jogadores atrasados em três meses. “Quando assumimos o Atlético, o clube estava desacreditado. Hoje, não. O clube possui credibilildade e com patrimônio maior em termos de jogadores. Se for preciso, temos jogadores que podem ser negociados por R$ 10 milhões , R$ 15 milhões e que podem resolver esses problemas", justifica.
Ele reconhece que a falta de união em torno de sua administração, com divergências internas, acabou prejudicando o clube. Sobretudo o afastamento paulatino do presidente do Conselho Deliberativo Alexandre Kalil. “O Alexandre, por exemplo, era uma oposição, sem ser oposição. E isso acabou prejudicando o clube".
ENTREVISTA COM NÉLIO BRANT
Você se afasta hoje oficialmente do Atlético por 90 dias. Deixa o clube com a sensação do dever cumprido?
Deixo a presidência do Atlético com a cabeça erguida. Certo de que fiz tudo de melhor e que estava ao meu alcance para o clube. Agora deixo a presidência, mas continuo contribuindo com o Atlético. Já na sexta-feira vou com o Ricardo (presidente em exercício do clube que já começou a trabalhar ontem no novo cargo) para uma reunião do Clube dos Treze. Aliás, o Ricardo me pediu e eu vou continuar trabalhando no Clube dos Treze (Nélio integra uma comissão de trabalho no Clube dos Treze).
Qual o balanço desses dois anos e cinco meses à frente do Atlético. É positivo?
Pegamos o clube desacreditado e hoje o Atlético e, com muito trabalho, recuperamos a credibilidade. Conquistamos o bicampeonato mineiro e fomos vice-campeão brasileiro em 1999, com o Corinthians tendo muita sorte naquele último jogo da final da competição (referindo-se ao empate de 0 a 0 e que garantiu ao time paulista o terceiro título brasileiro). Disputamos a Copa Libertadores da América depois de quase duas décadas e também a Copa Mercosul. Fizemos uma administração transparente e séria.
E qual foi a sua decepção?
Acho que ficou faltando unir mais todos os setores do Atlético. O Alexandre (referindo-se ao presidente do Conselho Deliberativo Alexandre Kalil), por exemplo, acabou se afastando. E, com isso, acabou se transformando na maior oposição sem ser oposição à nossa administração. Mas isso acabou prejudicando o clube por causa das ondas que foram criadas. Acho que o Ricardo vai precisar trabalhar com o grupo mais unido.
A herança que sua administração deixa para seu sucessor, Ricardo Guimarães, é administrável?
Para se ter uma idéia, o nosso adversário (Cruzeiro) teve um prejuízo de R$ 15 milhões e, nós, tivemos de R$ 5 milhões. E isso foi resultado de trabalho sério e honesto. Para este ano projetamos um prejuízo de R$ 15 milhões. Mas esta não é uma crise apenas do Atlético, não. É uma crise do futebol brasileiro, basta ver a situação do Flamengo, Grêmio, Santos. Espero que a CPI do futebol consiga realmente moralizar o futebol brasileiro. É preciso um órgão controlador para arrumar casa do futebol brasileiro.
Existe a possibilidade de o pedido de licença de 90 dias ser prorrogado?
Fiz esse pedido para ter um descanso que não tinha há três anos. Foi uma decisão de consenso. Depois, vou conversar com todos no Atlético para decidir o que for melhor para o clube. Posso afastar-me por mais tempo ou até o final do mandato. Agora insisto: estarei continuando trabalhando pelo Atlético, porque isso aqui é uma religião; não estarei no seu dia-a-dia.