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Presidente da CBF diz estar acostumado com fracassos da Seleção

Sexta-feira, 13 Julho de 2001, 19h41

Cali - O torcedor brasileiro precisa reaprender a realidade do futebol. Agora ele é obrigado a engolir conceitos impensáveis há poucos anos como a superioridade do futebol argentino, a humildade e o fato de que ficar seis jogos da seleção sem nenhuma vitória faz parte do jogo. O torcedor precisa entender ainda que o comandante do futebol brasileiro já está resignado com a seca de resultados decentes.

O presidente da CBF Ricardo Teixeira foi encontrado pela Reuters no lobby do hotel Pacifico Royal em Cali, na Colômbia, onde está hospedado, após o mais recente fracasso da seleção.

Aparentando calma, com uma camisa azul e calça social escura, Teixeira falou sobre vários assuntos.

``A gente precisa ter humildade e entender que a Argentina está em um momento melhor do que o nosso. É difícil do brasileiro entender isso? Será que não dá para um dia o Brasil entender que o México jogou melhor e ponto?'', disse Teixeira em entrevista à Reuters após a derrota do Brasil por 1 a 0 para o México na Copa América.

``Será que não dá para entender que a França ganhou do Brasil (na final da Copa do Mundo de 1998) porque mereceu ganhar? Entendam bem, eles jogaram melhor e isso acontece'', completou o dirigente por volta da uma da madrugada de sexta-feira, ainda com a camisa amassada da viagem até Cali.

Com os olhos ligeiramente vermelhos pelo cansaço, tudo que Teixeira conseguiu foi pedir paciência ao povo brasileiro, angustiado com a ameaça do Brasil não participar de uma Copa do Mundo pela primeira vez em sua história.

``Vamos esperar o resultado final. Você não pode fazer o balanço de uma empresa no mês de fevereiro, mas sim em dezembro. E dezembro significa a classificação para a Copa do Mundo'', explicou o dirigente.

A desculpa do dirigente para a crise em que se encontra o futebol vai na linha da dos últimos treinadores da seleção e dos jogadores: não é o Brasil que está piorando, mas os outros times que evoluíram.

``NÃO TEM MAIS JOGO GANHO''

O manda-chuva do futebol brasileiro desde 1989, entretanto, não sabe o que pode ser feito. Faltaram explicações quando questionado sobre o que acontece com a equipe que perde com ou sem seus ``medalhões'', como Rivaldo, Romário e Roberto Carlos.

``Acho que precisamos nos conscientizar que hoje temos que lutar para ganhar. Não adianta a gente achar que vai ganhar do México porque sempre ganhou do México. A história está provando que não é isso'', disse. ``Não tem mais milagre, não tem mais jogo ganho''.

Apesar de se mostrar confiante se que o Brasil vai estar na Copa do Japão e da Coréia do Sul em 2002, ele admite que a equipe esteve muito mal em campo contra o México, mas isentou o técnico Luiz Felipe Scolari, deixando toda a responsabilidade para os jogadores.

``Não gostei, achei que o time do Brasil foi muito mal e garanto que o técnico da seleção acha o mesmo. Não foi ele que errou 40 passes e chutou na trave'', disse Teixeira, que foi ao estádio Pascual Guerrero assistir à partida.

O dirigente, que usava uma camisa azul e calça social escura, mostrou ter pouca intimidade com os jogadores ao afirmar que não vai ficar no hotel em que estão hospedados pois se considera um ``corpo estranho'' em meio à delegação brasileira.

``Nunca fico quando a concentração é fechada porque incomodo. Acho que no almoço vou incomodar os jogadores e faço isso por respeito a eles'', explicou.

Teixeira não quis comentar os acontecimentos que abalaram a seleção e o torneio logo no início. Para ele a decisão de Mauro Silva de não viajar com a equipe no momento do embarque é algo para ser discutido com o jogador. Ele também se recusou a falar sobre a desistência da Argentina, limitando-se a dizer que o fato abala o torneio já que ``a Argentina é hoje a grande seleção do mundo''.

A GLOBO NO FUTEBOL

Teixeira admitiu que a Rede Globo teve grande influência na elaboração do novo calendário do futebol brasileiro, que prevê o esvaziamento dos estaduais, o fim da Copa Mercosul e o fortalecimento dos torneios regionais. E a explicação dele para isso é simples: a Rede Globo é imprescindível.

``Pergunte se o futebol mexicano vive sem a Televisa. No Brasil é a Rede Globo. Não adianta a gente ficar com esse proselitismo, a Rede Globo participou do calendário sim'', afirmou.

A Globo tem os direitos de transmissão dos principais torneios nacionais e internacionais de futebol e tem sido criticada pelo presidente do Vasco da Gama, Eurico Miranda, por interferir com horários, locais e datas de jogos.

O dirigente defendeu com ênfase o esvaziamento dos estaduais, priorizando os grandes clubes.

``A única exceção é São Paulo. O Campeonato Mineiro não existe só com o Atlético-MG e o Cruzeiro, e assim acontece com Grêmio e Inter no Rio Grande do Sul'', disse. ``Tem que gerar riquezas para esses clubes porque o fato deles falirem ou dividirem dinheiro com os pequenos não significa que os pequenos vão ficar ricos. São eles que vão ficar pobres''.

CPI

Sempre tranqüilo, o presidente da CBF confirmou que vai entrar com processos criminais e cíveis contra os deputados que elaboraram o relatório final da CPI da Nike, Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e Silvio Torres (PSDB-SP).

Teixeira alega que o presidente e o relator da comissão divulgaram seus segredos bancários e fiscais de forma irregular.

``Essas duas pessoas estão usando segredos que só podiam ser liberados publicamente pela justiça'', disse ele, completando que mais de 50 processos -- incluindo os movidos pelas 22 federações estaduais -- devem ser abertos contra os parlamentares.

Reuters




   
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