Rio - Berço histórico de divergências políticas e esportivas entre seus cartolas, o Flamengo passou a quarta-feira unido como poucas vezes se viu. A lei, obedecida militarmente por todos, foi a do silêncio, sobre a conta que o clube manteve, por 17 anos, nas Ilhas Cayman, um dos mais banalizados paraísos fiscais do mundo.
Parte da movimentação foi revelada nesta quarta, pelo Jornal do Brasil. O Conselho de Grandes Beneméritos determinou que nenhum dirigente falasse sobre o assunto - e foi atendido com disciplina quase inédita até pelos mais atingidos pelas acusações.
O único autorizado a falar é o advogado do clube (e ex-presidente) Antônio Augusto Dunshee de Abranches. No mais, ninguém, da atual diretoria ou das anteriores, se interessou em explicar os destinos dos mais de US$ 20 milhões que passaram pelo paraíso fiscal. De sua parte, o secretário de Receita Federal, Everardo Maciel, entrou em campo para apurar as irregularidades em torno da conta em Cayman. ''Os indícios são claros'', confirmou. ''E apenas ampliam minha convicção de que há delitos demais desse tipo na área esportiva''.
Um dos poucos a quebrar o silêncio - superficialmente - sobre o assunto foi o ex-presidente Kleber Leite, em cuja gestão (1995-98) concentram-se as operações mais vultosas, segundo a documentação obtida pelo JB. O dirigente, responsável pela passagem de Romário pelo clube, não se sentiu pessoalmente atingido pelas denúncias. ''Na nossa administração, jamais em tempo algum, o Flamengo remeteu um único centavo ao exterior'', garantiu.