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“Somos fortes candidatos ao título”, diz Nelsinho
Quinta-feira, 22 Novembro de 2001, 02h29

São Paulo - O técnico Nelsinho Baptista conseguiu superar momentos complicados e agora conduz o São Paulo à classificação no Campeonato Brasileiro. Dizendo-se mais maduro pela experiência profissional e pela idade, ele falou com exclusividade à reportagem do Lance! sobre a arrancada tricolor, o episódio dos "laranjas podres" e o futuro do futebol brasileiro.

Como começou essa arrancada do São Paulo?

Nelsinho Baptista: O resultado não depende só do trabalho dentro de campo. Não é só jogar futebol. Sempre existem problemas que precisam ser solucionados. Realmente o nosso trabalho não estava fluindo. Pelo que percebia nos treinamentos, tudo estava sendo feito com vontade. Conversei com o grupo e não o deixei desanimar. Sabia que o resultado viria.

L!: Você teve medo de ser demitido durante este semestre?

NB: Já perdi esse medo há muito tempo, amadureci muito. Talvez, no começo da minha carreira, tivesse medo. Muitas vezes senti isso. Com o trabalho fora do país (Barranquilla-COL/1989, Al-Hilau-SAU/93-94, Verdy-JAP/94-96 e Colo Colo-CHI/99), a minha idade (51 anos), não tenho mais esse medo. Sei que a cultura do futebol é essa, mas sempre estive tranqüilo. Conversava com a diretoria quase todos os dias naquele período.

L!: Mas você afastou o Carlos Miguel, o Gustavo Nery e o Rogério Pinheiro quando estava na corda bamba.

NB: Essa atitude serviu de alerta. Os jogadores colocaram os pés no chão e perceberam que o negócio era sério. A reintegração do Gustavo e do Rogério serviu para fechar mais o grupo. Todos viram que não estava aqui para sacanear ninguém. Estou aqui para vencer e não para ser mais um técnico a passar pelo clube.

L!: A sua posição com relação ao Carlos Miguel continua firme. Mas os outros voltaram ao grupo. Você ficou arrependido de afastá-los?

NB: Não. Tive uma conversa com eles e resolvemos algumas coisas. Foi bom porque muita gente pensa que sou ditador, autoritário. Apenas visto a camisa do clube em que estou trabalhando. Esqueço a minha vaidade e me entrego à profissão. Posso até ser chamado de ditador, mas nunca vou ser chamado de omisso. Vou sempre tomar decisões.

L!: Os jogadores estão mais unidos depois desses acontecimentos?

NB: O São Paulo agora tem atitude dentro de campo. Temos o pensamento de vencer. A união existe e todos estão colaborando.

L!: Mesmo durante a crise, o sistema de treinos continuou o mesmo. Até que ponto você é responsável por essa arrancada?

NB: Logicamente que tenho a minha parcela. Se a culpa é do técnico na fase ruim, agora também acertei em algumas coisas. Mas o grupo também tem uma grande parcela. Pela qualidade e pelo respeito que todos têm comigo. O trabalho da comissão técnica e dos médicos e fisiologistas também precisa ser destacado.

L!: Essa seqüência de resultados positivos pode suprir a falta de regularidade do time no Brasileirão?

NB: Acho que sim. O time teve uma evolução grande em um momento importante da competição. Nosso fôlego está em dia. Quando acontece uma evolução dessas, temos menos contusões, o desgaste é menor e tudo contribui para seguir adiante. Acreditamos muito na nossa classificação.

L!: O São Paulo está com pinta de campeão?

NB: Temos que pensar primeiro em classificação. Agora, se entrarmos entre os oito, mesmo jogando fora de casa, com certeza seremos candidatos fortes ao título brasileiro.

L!: Parece até que a torcida está mais próxima, apoiando de uma forma mais forte. Isso ajuda na reta final?

NB: É importante, mas sinceramente nunca tive problemas com os torcedores. Só não vou ser unanimidade. Com o apoio dos torcedores, os jogadores ficam mais confiantes. Muita gente fala que o Morumbi é muito grande. Mas, quando está cheio, o estádio fica pequeno. Quanto mais apoio melhor.

L!: Você disse que trabalhar fora do país serviu para amadurecer a pessoa e o técnico. Mas isso não prejudicou as suas chances na Seleção Brasileira?

NB: Não só na Seleção. Até nos clubes ficou mais complicado. Acabei um pouco esquecido e novos profissionais surgiram. Demorei para voltar para um grande clube e ter reconhecimento. Acredito que, se estivesse por aqui durante esses três anos fora, poderia ser um forte candidato à Seleção.

L!: Você pensa muito em ser técnico do Brasil ou acha que isso vai acontecer naturalmente?

NB: Acho que vai chegar naturalmente. Tenho que ter resultados, é o que penso. Não fico pensando nisso todo dia. Mas tenho uma garra e uma disposição para trabalhar, uma força interior que vocês nem imaginam.

L!: O que você acha do cargo de diretor de seleções, que já existe em outros países, como a Argentina?

NB: Gosto muito da idéia. E o Carlos Alberto Parreira seria o nome mais indicado. Ele é uma pessoa que, se descer em qualquer lugar do mundo, vai ter uma pessoa esperando. Não é que não gosto do Antônio Lopes, mas o Parreira seria muito bom. O Luiz Felipe Scolari teria uma tranqüilidade maior para trabalhar como técnico.

L!: O que você faria para recolocar o futebol brasileiro nos trilhos?

NB: Temos que ter uma economia em que os clubes consigam sobreviver. Não pode haver a necessidade de fazer jogador hoje e vender amanhã. O Uruguai é assim. Com 16 anos, os garotos vão para a Europa. Depois temos que ter mais organização na CBF, com calendário igual ao do futebol europeu e assim vai. A Argentina está na nossa frente nesses aspectos.

L!: Você concorda com as investigações das irregularidades no futebol?

NB: Isso precisa ser feito. É por isso que as investigações das CPIs são muito importantes. O futebol não pode servir de interesse para meia dúzia de pessoas. O futebol é bem maior do que se possa imaginar. Resultado não vem só de dentro de campo.

L! Sportpress

 

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