Guarujá - Amyr Klink inicia nos próximos três ou quatro dias o mais longo e difícil desafio de sua vida. O mais novo objetivo do navegador brasileiro é chegar à China por rotas alternativas, num projeto que deve durar três anos.
A idéia do desafio surgiu há oito anos, quando começou a concepção do Paratii2, um barco de desenho simples, econômico e de grande autonomia. "Construir três anos de autonomia significa construir um pedacinho do nosso futuro. Tenho orgulho de ver esse barco pronto, porque ele é raro no mundo", disse Klink em entrevista coletiva no Guarujá, litoral de São Paulo, nesta quarta-feira.
"Passei por muitas dificuldades para construí-lo, gastei até o último centavo, mas não me arrependo, pois tudo é amadurecimento", completou o navegador, que mostrou o barco desculpando-se pela bagunça, já que estão sendo preparados os últimos detalhes para a partida.
O brasileiro viajará com outros três tripulantes -- Marcos Hurodovich, José Fernandes e Edson Pinto -- todos experientes e envolvidos na construção do Paratii2, um barco de 30 metros de comprimento e que tem a estabilidade assegurada por dois mastros de fibra de carbono e pela hidrodinâmica do casco, feito de alumínio.
A expedição terá no total três etapas. Na primeira, o barco sairá do Guarujá em direção à Antártida sem interrupções. Os principais obstáculos nessa fase serão a chegada à Baía Margarida, uma área de difícil navegação por causa da diferença de níveis de água, e o Mar Behllinghausen, onde as placas de gelo representam grande perigo. Essa etapa deve durar de três a quatro meses.
De volta ao Brasil, o Paratii2 passará por uma revisão e em outubro de 2002, o navegador fará a viagem em torno do globo terrestre, retornando entre fevereiro e março do ano seguinte.
Finalmente em outubro ou novembro de 2003, os navegadores seguirão rumo à China. Eles sobem para o hemisfério norte para então decidir se irão à noroeste (passando pelo norte do Canadá) ou nordeste, pela Sibéria.
"Essas duas rotas não são comuns atualmente, mas têm grande importância histórica e econômica", afirmou Amyr Klink, que fez questão de agradecer a compreensão e a ajuda de sua mulher, Marina, com quem ele é casado há cinco anos e tem três filhas.
Marina disse que mergulha de cabeça no trabalho para compensar a ausência de Klink. "O tempo passa rápido porque me dedico muito ao meu trabalho. Sou organizadora de festas e isso requer muita dedicação", explicou Marina, acrescentando que, apesar da distância, eles são muito unidos.
"Temos em comum o respeito pela individualidade e a confiança no outro. Esse barco é a materialização de um sonho", comentou.