Rio – O agora meia Felipe largou de lado o estilo ‘bad boy’ e já é uma das mais importantes peças no time do Vasco. Nesta entrevista ele fala abertamente sobre sua conturbada carreira.
Existe alguma diferença no seu futebol entre os anos em que você despontou e o apresentado hoje?
Felipe: Nem tanto. O futebol de hoje é o mesmo apresentado naquela época. A diferença é que era um time cheio de craques: Edmundo, Juninho, Evair e Mauro Galvão. E também porque agora jogo numa outra função.
Por que quis mudar de posição?
F: Na lateral, também vivi ótima fase. Muitos títulos. No meio de campo, senti que poderia ser mais útil e todo mundo falava que eu tinha condições de jogar nesta função. Não joguei assim no Palmeiras e no Atlético-MG porque não queria arrumar problemas com os técnicos. Mas hoje todos estão vendo que o resultado.
Mas você não se sente sobrecarregado nesse novo time do Vasco?
F: Não. Até que gosto dessa responsabilidade. Me dá mais confiança. Hoje, sei que sou uma peça importantíssima para a equipe. Afinal, o jogador de armação é o coração do time. Por exemplo, se eu for mal num jogo, certamente o time não jogará bem.
Pelo visto, já está preparado para se tornar ídolo de vez do Vasco.
F: É um dos meus maiores sonhos. O carinho da torcida, a idolatria mexe com o ego do jogador. Sei que, hoje, o ídolo do Vasco e do Brasil é Romário. Mas já estou preparado para assumir este posto e sei que tenho condições para isso. Para tanto, até já estou mudando a minha imagem.
Você reconhece que a fama de ‘bad boy’ atrapalhou o início da carreira?
F: Com certeza. Esta fama de ‘bad boy’ me prejudicou muito. Na época, eu era muito temperamental em campo e as pessoas achavam que fora de campo eu fazia as mesmas besteiras. Ma eu tive culpa nisso, porque vinha dos juniores e me deslumbrei em jogar com grandes jogadores, dar autógrafos. A vida de jogador é curta e não podia desperdiçar a chance que tenho de vencer na vida. Tanto que nem fui para a Sapucaí no Carnaval. Verdade! Por incrível que pareça, fiquei em casa. Se o jogador não tiver uma estrutura legal, acaba se perdendo mesmo.
Por que você teve tantos problemas de indisciplina no Vasco?
F: Na época, via que o clube não valorizava a prata-da-casa e a situação financeira não era muito boa. Queria sair para poder ajudar melhor a minha família. Hoje, já tenho um apartamento na Barra e estou fazendo obra na casa da minha mãe, em Higienópolis. Sem contar que ajudo meu pai, quatro irmãos e três sobrinhos.
Agora, por que você resistiu muito em voltar ao Vasco?
Uma das razões foi que conversei com Eurico e disse que só voltava para jogar no meio. Ele aceitou e deu certo. Também porque vi que Rio e São Paulo são as vitrines do futebol brasileiro.
O seu contrato vai até quando?
F: Fizemos um acordo de boca e, quando aparecer algo bom para mim e para o Vasco, Eurico me libera.
O Vasco já acertou os meses de salários atrasados que tem com você?
F: Ainda não. Mas estou tranqüilo. O Vasco não é o único clube a passar por esta situação. Por isso, não entrei na Justiça, pois sairia daqui para jogar em outro lugar e sofrer a mesma coisa. Prefiro sofrer aqui, perto de casa.
Jogar esta Copa do Mundo faz mesmo parte dos seus planos?
F: É o sonho de todo jogador. Pelo fato de jogar em várias posições, como apoiador, volante e lateral, acho que tenho chances. Sou daqueles jogadores que se pode chamar de versátil.
Você é daqueles que buscam jogar um futebol diferenciado?
F: Todo time tem o jogador que fica encarregado de criar as jogadas e isso sempre acontece com os que tem mais talento, habilidade. É o meu caso. Não posso fugir das minhas características e mesmo com a violência do adversário não me intimido. A minha defesa será sempre o drible..
A briga que você teve com o Vasco foi o seu pior momento?
F: Sinceramente, não. Aquela confusão com a Roma foi horrível, pois fiquei três meses sem jogar não tendo culpa de nada. Pensei até em parar de jogar. Mas vi que o futebol era o que eu fazia de melhor e o meu sustento.
Ao que parece, você está mesmo mudado. Já pensou, então, em fazer uma reconciliação entre Romário e Edmundo, pois é amigo de ambos?
É difícil falar. Mas, no meu ponto de vista, essa briga se deu por causa de vaidade. Estava aqui na época, durante o Rio-São Paulo de 2000, e vi de perto. Falta apenas um dar o braço a torcer, pois na verdade eles se gostam. Sempre quando Edmundo ou Romário encontram amigos comuns, procuram saber notícias do outro.