Oliveira Júnior
Direto de Cuiabá - O futebol mato-grossense enfrenta a maior crise de toda a sua história, falta dinheiro aos clubes e muitos deles estão abandonando
o Campeonato Estadual.
Depois do Grêmio de Jaciara, Mixto, Diamantino e
Vila Aurora, agora o Dom Bosco, clube mais antigo do Estado, com 79
anos de tradição, ameaça abandonar o Campeonato Mato-grossense. A justificativa é a falta de patrocínio.
O presidente do clube, Álvaro Scolfaro, não ficou nenhum pouco
surpreso ao tomar conhecimento da ameaça de desistência do Vila
Aurora, de Rondonópolis. “Pelo menos outros dois ou três clubes estão prestes a ter o mesmo destino, inclusive o Dom Bosco.”
“Se os clubes não obtiverem alguma ajuda, este campeonato corre o
risco de terminar com 5 times, prevê o presidente.” Scolfaro acha que além da iniciativa privada, o poder público deveria participar ativamente do processo de reestruturação do futebol mato-grossense. "Se Governo e prefeituras não ajudarem, as empresas também não vão, avalia Scolfaro.
O Mixto, clube mais tradicional e de maior torcida no Estado, 11
vezes campeão estadual e que já chegou a disputar o Brasileirão,
hoje não está nem na Série C, pois se licenciou da competição.
O presidente do clube Wilson Bregunci, que está adoentado,
alegou "falta de apoio político e financeiro".
O Operário de Várzea Grande, que é o único clube mato-grossense,
entre os 100 primeiros do ranking da CBF, voltou a campo este ano,
após um ano de licenciamento, mas, apesar de liderar a competição e
estar invicto, também não tem dinheiro para honrar seus compromissos
com os jogadores, que na segunda-feira ensaiaram uma greve.
O presidente do clube do Operário, Alceu Provatti, disse numa reunião com os jogadores que "não vai tirar dinheiro do bolso para pagar dívidas do
clube" e mandou os jogadores "se virarem".
Em meio a tantos lamentos, surgiu uma luz no fim do túnel, esta
semana. O União, da cidade de Rondonópolis, que nunca conquistou o
título estadual e é o único clube presente em todos os campeonatos,
contratou o veterano Tupãzinho. Em sua estréia,
nesta terça-feira, o ex-talismã corintiano marcou um golaço no empate por 1 a 1 com o Juventude de Primavera do Leste.
O adversário do União, que realizou algumas façanhas nos dois últimos
anos - goleou o Fluminense por 4 a 1 e o bateu o Atlético-MG por
2 a 1, ambos jogos em Cuiabá, ambos pela Copa do Brasil, é uma rara
exceção. O time recebeu uma cota de R$ 113 mil pela participação na
Copa Centro-Oeste, deve receber ainda outra “bolada” pelos jogos na
Copa do Brasil e tem um patrocinador que garante pelo menos o
pagamento da metade da folha do pagamento.
Para agravar ainda mais a crise, a Federação Mato-grossense,
presidida desde 1977 pelo advogado Carlos Orione, permitiu a
participação de clubes literalmente amadores este ano, como o
Arsenal, da cidade de Sorriso e o Sinop. As duas equipes utilizam a base de suas escolinhas de futebol, e,
profissionalizadas às vésperas da competição, sem antes disputar
qualquer torneio seletivo, fazem número no torneio que já perdeu três
clubes até agora.