Alyssa Baumann revela ter sofrido mais de 40 abusos de Larry Nassar
Norte-americana alegou ter sido ignorada por federação após denúncias; Baumann é a quinta ginasta campeã mundial em 2014 a se declarar vítima de abuso do ex-médico
Em fevereiro de 2018, Larry Nassar foi condenado a até 360 anos de prisão (na prática, à prisão perpétua) por uma série de crimes sexuais: pornografia infantil e por ter molestado ao menos sete mulheres. O número de acusações supera a casa dos 100; dentre elas estão inúmeras ginastas dos Estados Unidos, a quem o médico atendeu durante passagem pela seleção de ginástica do país.
Neste sábado, Alyssa Baumann revelou ter sido mais uma das vítimas de Nassar. Com a declaração, a ginasta se junta a - ao menos - outras quatro companheiras da equipe que foi campeã mundial em 2014; a lista inclui Simone Biles, Kyla Ross, Madison Kocian e Ashton Locklear.
Baumann entrou com processo em agosto de 2018 na Corte do Condado de Cook (Illinois), mas manteve seu nome omitido. Na ocasião, usou-se o termo "Jane Doe" para fazer referência a Alyssa, mas o relatório judicial terá o nome da ginasta de agora em diante.
O processo afirma que a ginasta foi molestada por Nassar em mais de 40 ocasiões entre os anos de 2013 e 2015. Alyssa cobra por reparações tanto da federação nacional de ginástica (USA Gymnastics), quanto da Federação Internacional de Ginástica (FIG).
Baumann foi campeã mundial de ginástica em 2014 com os EUA (Foto: Reprodução/Instagram)
- O pior foi durante o Mundial, porque foi uma coisa recorrente. Tínhamos um quarto (na China) só para tratamentos, e por muitas vezes ficamos sozinhas naquele quarto com ele. Acho que (o abuso) aconteceu todos os dias, porque éramos forçadas. Eles diziam 'você tem que fazer tratamento todo santo dia' - disse a atleta ao jornal IndyStar, que revelou o escândalo sexual.
Ainda segundo Baumann, Nassar costumava receitar relaxantes musculares antes das sessões de tratamento. Ela acredita não ter certeza sobre a origem e/ou intuito dos comprimidos - alegando que eles poderiam ter sido usados apenas para facilitar os crimes do médico.
Em 2015, um treinador ouviu por acaso um grupo de ginastas conversar sobre os tratamentos de Nassar, que o levou a reportar o médico à USAG. A federação conduziu uma investigação de cinco semanas antes de levar o caso ao FBI. Alyssa Baumann afirma não ter recebido acompanhamento ou quaisquer respostas até novembro de 2017, 30 meses depois da denúncia.
Confira o depoimento de Alyssa abaixo, traduzido e na íntegra:
"Sinto que cheguei a um ponto em que posso compartilhar minha verdade. por mais que ela faça eu me sentir desconfortável e vulnerável, acredito que contar minha história vai ajudar na minha recuperação, e mais importante, ajudar a outras que estão lidando com esse trauma. Eu, também, fui abusada sexualmente por Larry Nassar. Ele traiu minha confiança e tirou vantagem de mim por anos.
Você pode perguntar porque não me pronunciei antes. Estava em negação e assustada. Hesitei até mesmo em contar para minha família, porque não queria magoá-los ou ser um fardo. Levou um tempo para que eu admitisse o que aconteceu e vai demorar ainda mais para que eu supere, mas ao compartilhar minha história, sei que estou no caminho para a cura.
Minha esperança é de que meu caso encoraje outras a se pronunciarem sobre suas próprias situações- para que elas também possam começar a se recuperar. Que isso sirva, também, como lembrete àqueles nas autoridades para mudar completamente a cultura na USAG e responsabilizar todos que facilitaram (a conduta) de Nassar, para que as futuras gerações de ginastas possam se sentir seguras e aproveitar o esporte novamente.
Finalmente, sim, eu sou uma sobrevivente de abuso sexual, mas me recuso a deixar que isso me defina ou limite. Rezo para que as pessoas ainda me vejam como Alyssa. Uma pessoa forte que nunca desistiu mesmo após uma séria lesão (que a tirou das Olimpíadas Rio-2016). Como alguém que ama rir, mas ama ainda mais fazer os outros rirem. Uma ex-integrante da seleção de ginástica dos Estados Unidos, que sentia orgulho em representar seu país, e uma Florida Gator (nome dados aos alunos da Universidade da Flórida, onde Baumann estuda atualmente)
.Às demais sobreviventes, estou com vocês e sua bravura me inspira. Às que escolheram permanecer em privado, vocês não estão sozinhas. Passaremos por isso juntas. #EuTambém (uma alusão à campnaha #MeToo, que escancarou abusos sexuais em Hollywood e na sociedade norte-americana)."