Ambulantes vão 'sumir' dos trens do Rio durante a Olimpíada
Em meio às transformações por que passa o Rio de Janeiro, por causa da Olimpíada, há também protocolos que vêm sendo cumpridos na cidade com o propósito de vender para o mundo uma imagem distorcida da realidade. Exemplo disso é o que se vê (e o que se deixará de ver) dentro dos trens. Em seus vagões, circulam diariamente uma infinidade de vendedores ambulantes não cadastrados. Durante os Jogos, eles desaparecerão.
O trem é o transporte mais apropriado para quem vai ao Engenhão e ao Complexo de Deodoro e referência para quem quiser ir ao Maracanã. Esses três pontos vão abrigar disputas de várias modalidades e devem atrair centenas de milhares de pessoas entre 5 e 22 de agosto.
São muitas as famílias que dependem desse trabalho diário nos trens da SuperVia, a concessionária com direito a explorar o transporte ferroviário do Estado. A empresa orienta seus funcionários a combater o comércio clandestino. Isso tem sido mais frequente em algumas das 102 estações administradas pela Supervia. Em outras, não.
A reportagem do Terra fez seis viagens de trem nas últimas semanas, conversou com vendedores e notou que a ação dos seguranças da SuperVia tem se intensificado, mas ainda é parcial. Do grupo que oferece desde cartelas de remédio contra dor e febre até antenas para TV, lanternas, cortador de unha e chumbinho para matar rato, três deles afirmaram que no período olímpico vão ter mesmo de ficar longe das estações.
“Principalmente nos ramais que levam a Deodoro e passam pelo Maracanã e Engenhão. Vamos ficar sem trabalho”, lamentou J., 55 anos, que vende biscoitos e batata frita. “Já nos passaram o recado. Para não ter problema, o melhor é buscar outro local em agosto.”
Com seu isopor surrado, que ele esconde numa saco plástico, L, 44 anos, vende água e refrigerante nos trens, uma rotina de mais de 11 anos. Ele disse que já foi ‘notificado’ por seguranças “amigos” e não está disposto a correr riscos durante os Jogos. “É tudo pra mostrar um mundo ideal pra ‘gringo’ ver.”
O Terra entrou em contato coma SuperVia, de quem recebeu o seguinte comunicado sobre o problema.
Ciente de que o trem é um meio de transporte que permite a integração entre as pessoas, a SuperVia investe em campanhas de conscientização com o objetivo de alertar sobre a proibição do comércio ilegal de camelôs e os riscos do consumo de produtos de procedência não conhecida e, por vezes, fora do prazo de validade. De acordo com o artigo 40 do Regulamento de Transporte Ferroviário é “proibida a negociação ou comercialização de produtos e serviços no interior dos trens, nas estações e instalações, exceto aqueles devidamente autorizados pela Administração Ferroviária”.
Com o intuito de coibir a ação de vendedores não regularizados nos trens, a SuperVia realiza periodicamente, com o apoio de policiais militares do Programa Estadual de Integração da Segurança (PROEIS), operações para combate à venda clandestina, em que são cometidos crimes de sonegação fiscal e concorrência desleal, além de veicular campanhas educativas para alertar os passageiros sobre tal proibição. Desde o início do ano, mais de 18.400 ambulantes ilegais foram retirados do sistema ferroviário. Nestes casos, as mercadorias são recolhidas e entregues à Guarda Municipal ao final da operação.