Ana Marcela revela que pensou em parar: "Não queria mais"
Ana Marcela Cunha surpreendeu ao anunciar às vésperas do Mundial de Esportes Aquáticos do ano passado o rompimento com o técnico Fernando Possenti, com quem foi campeã olímpica e com quem tinha uma parceria vencedora há dez anos. A brasileira se mudou para a Itália com Juliana Melhem, sua esposa e preparadora física, e passou a treinar na equipe do treinador Fabrizio Antonelli. Em entrevista exclusiva ao Olimpíada Todo Dia, a nadadora falou sobre suas expectativas para Paris-2024, revelou que pensou em largar tudo e se aposentar, mas que agora está feliz e em busca de se manter competitiva de uma maneira mais leve.
"A gente pode fazer história e ter o bicampeonato olímpico, mas eu quero estar feliz e estou me sentindo bem. Eu passei por muita coisa e, só eu sei o que eu passei, ainda estou no esporte. Cheguei num momento da minha vida que eu falei: 'eu não quero mais'. Senti o apoio de quem eu precisava, de quem estava do meu lado, e consegui voltar e estar onde eu estou. O que eu trabalho muito com a minha psicóloga é estar bem, é estar feliz. É estar no alto rendimento, é passar pela dor que a gente tem que passar, mas de forma tranquila e feliz como eu tenho feito", afirma a campeã olímpica da maratona aquática.
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"Todo mundo acha que depois do ouro olímpico só são glórias, só que existe o outro lado também, que é todo mundo achar que, só por você ter sido campeã olímpica que você tem que ganhar tudo para o resto da vida e não é assim", desabafou a nadadora.
Exemplos
Ana Marcela Cunha revelou que tem usado como exemplo as brasileiras que conquistaram a medalha de ouro olímpica em duas edições seguidas dos Jogos. "O maior exemplo para nós atletas são as bicampeãs olímpicas do vôlei e da vela porque ser é difícil, mas ser duas vezes é mais ainda. Se manter no alto nível, é mais ainda. Só que ninguém tem noção do que uma atleta profissional passa, do que a gente vive todos os dias", acredita a nadadora, que quer se espelhar na maneira com a qual as velejadoras Martine Grael e Kahena Kunze levam a vida.
"O maior diferencial talvez de quem foi bicampeã e está brigando de novo para, quem sabe, ser tricampeã são as meninas da vela. Elas sabem viver, elas sabem ter uma vida junto com o esporte. Muitas vezes, elas passam um ano sem estar competindo juntas. Muitas vezes cada uma segue um caminho diferente durante o ciclo e depois elas se juntam novamente. Então, tem que existir um equilíbrio. Eu acho que muitas vezes fui muito 'cavalinho' e às vezes deixei de viver um pouco. E eu estou me permitindo isso e vendo que, mesmo me permitindo, eu consigo me manter no alto rendimento. Por isso que eu tenho vontade de continuar", explica.
Lesão no ombro
Logo depois de ser campeã olímpica, Ana Marcela Cunha não tirou o pé do acelerador. Em 2022, conquistou o ouro nas provas de 25km e 5km e bronze nos 10km. Além disso, sagrou-se hexacampeã do circuito mundial das águas abertas. O problema, entretanto, foi que ela lesionou o ombro e teve que passar por uma cirurgia.
"Eu tive bastante receio, medo... Precisei acreditar muito e fazer todo o trabalho necessário para que eu conseguisse voltar da melhor forma possível, o mais rápido possível", explica Ana Marcela Cunha, que, depois que voltou a competir, não se cobrou em relação aos resultados até que estivesse se sentindo completamente recuperada.
"Eu não me preocupei nesse período de recuperação em voltar e ganhar uma medalha. Me preocupei em fazer a recuperação como tinha que ser feita para pensar no final de um ciclo. Se eu tivesse pressa para no Mundial passado ganhar uma medalha, que era obrigação ou coisa do tipo, talvez eu tivesse passado do limite que era para eu fazer. Acredito que o bronze nas duas provas de 5km (nos Mundiais de 2023 e 2024) foram as medalhas que tinham que acontecer. Em nenhum momento eu me cobrei por algum resultado a não ser a vaga olímpica nos 10 km".
Rumo a Paris
Aos poucos, entretanto, Ana Marcela Cunha vai recuperando a confiança para chegar nos Jogos Olímpicos de Paris-2024 em condições de brigar pelo pódio e, quem sabe, pelo sonhado bicampeonato. "Eu comecei a entender a minha expectativa sobre aquilo que eu tenho feito. Por isso, eu ainda continuo melhorando mesmo com a cirurgia, independente de não ganhar tudo, mas eu continuo no alto nível, eu continuo brigando de igual para igual mesmo passando por tudo o que eu passei. Então, isso para mim é muito gratificante. O que todo mundo tem me perguntado é: 'Até quando a Ana vai?'. Eu tenho respondido: 'Até quando a Ana estiver feliz'. Isso é o mais importante para mim".