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Aos 11 anos, brasileiro Arthur Fernandes já se destaca no golfe

Descoberto quando acompanhava um treino do pai, golfista mirim caminha para ter carreira sólida e vencedora

17 dez 2021 - 17h06
(atualizado em 9/1/2022 às 03h39)
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Arthur Fernandes estava levemente ansioso. Para um garoto de 11 anos, é difícil disfarçar que a vontade de estar no campo era maior que a de responder perguntas sobre sua curta, mas já promissora, trajetória de dois anos como golfista mirim. Mas, gentil e cavalheiro —valores tão prezados no esporte em que ele disputa —, o garoto esperou a entrevista acabar para mostrar suas habilidades numa modalidade incomum no Brasil.

A conversa com o Estadão aconteceu em Indaiatuba, interior de São Paulo, no campo de golfe onde Arthur desenvolve um talento que já o levou a vencer torneios entre adultos e até a representar o País em disputas internacionais. Ele acaba de voltar da República Dominicana, onde jogou o Caribbean Championship, em Punta Cana. A competição poderia classificá-lo para o Mundial do ano que vem nos EUA. Arthur ficou entre os cinco primeiros, mas a vaga não veio.

"Esse ano eu não consegui a classificação, mas ano que vem vou treinar muito para conseguir chegar à Pinehurts. Ano que vem vai ser um ano com bons torneios, vou estar bem treinado e sei que vou conseguir me classificar para o mundial", afirmou Arthur, cheio de confiança.

Mas a não classificação não diminui o que o golfista, natural de Valinhos (SP), vem realizando desde 2019. Já são mais de 20 medalhas e dez troféus que ele conquistou. Títulos que o levaram para a 2.ª colocação no ranking da Federação Brasileira de Golfe na Juvenil E (até 11 anos) e ao 1.º lugar da lista da Federação Paulista. Ele tem o apoio dos pais, concilia estudos e golfe e espera abraçar a modalidade.

PROMESSA

Quem viu no garoto jeito para o golfe foi Luís Menezes, ex-jogador e professor de Alexandre Fernandes, pai de Arthur, que costumava levar o filho aos treinos no Terras de São José Golfe Clube, em Itu (SP). "O Luís deu um taco para ele passar o tempo enquanto eu treinava. Depois, me disse: 'Vamos parar um pouco sua aula e observar seu filho'", conta Alexandre.

Dali, Arthur foi para a escolinha. Aprendeu o básico e sentiu que já estava preparado para dar as primeiras tacadas. "O Arthur precisava de alguns ajustes. O movimento dele é natural. Isso é bom para o golfe", diz o técnico Juan Cruz.

É possível dizer que a ascensão de Arthur é efeito de um trabalho que tem transformado o golfe em um esporte mais conhecido entre as crianças. Em 2017, o empresário e golfista Felipe Almeida implementou no Brasil o Kids Golf Tour, uma série de torneios com sede em diferentes lugares. Na avaliação de Almeida, a organização dessas competições tem contribuído para a criação de uma comunidade do golfe e incluído nela praticantes mirins.

"Até em 2017, as crianças não tinham espaço. Até os mais talentosos não tinham referências porque não jogavam tanto contra as outras crianças da mesma idade. Nesse caso, a competitividade tem ajudado no desenvolvimento", disse Almeida ao Estadão.

Nas disputas, os bons resultados demoraram a aparecer para Arthur. Ele amargou um 5.º lugar em uma das etapas do Brasil Kids Golf Tour (entre sete participantes) e ficou na lanterna no Sul-Americano. Mesmo assim, gostou da atmosfera dos torneios e pediu para continuar. "Comecei a levar os treinos a sério."

Em 2020, ele ganhou uma das seis etapas do Brasil Kids e ficou em segundo nas outras cinco. Neste ano, venceu cinco de seis etapas do mesmo circuito e ficou duas vezes em segundo no sul-americano.

ENTRE OS ADULTOS

Dos vários troféus que Arthur tem na sua coleção, alguns vieram de competições entre adultos amadores, como o Nomads Club. Nele, além de ser campeão, o golfista-mirim foi o que mais embocou bolas em menos jogadas entre todos do torneio. "Alguns até não acreditavam, mas uma das pessoas que disputou com ele confirmou que a contagem de tacadas estava certa e disse: 'o menino joga muito mesmo'", lembra Alexandre.

Para crianças de 6 a 10 anos, os jogos são de nove buracos, que passam a ser de 18 a partir dos 11 anos. Além do aumento do circuito, a distância dos tees shoots, local de onde parte a primeira tacada, também muda na mesma faixa etária. Jogar com adultos facilitou Arthur a fazer a transição quando completou 11 anos. "Eu já jogava dos tees que os adultos jogavam, e as crianças jogavam do meio. Então, eu estava com uma vantagem grande quando comecei a competir em 18 buracos", explica o garoto.

BRINCADEIRA SÉRIA

Por trás dos resultados, há uma rotina preparada para Arthur se destacar e se desenvolver ainda mais. Ele treina até quatro vezes por semana, realiza um trabalho funcional com fisioterapeutas e faz consultas com um coach mental, requisitado após os pais perceberem que o filho se frustrava e sofria emocionalmente quando perdia.

Entender as razões do nervosismo do filho motivou a mãe, Adriana, a começar um curso de psicologia e estudar Psicologia do Esporte. "Se tiver uma forma de ajudar, de fortalecer a cabeça para a hora do jogo, eu vou estudar", diz.

Os pais enfatizam que o filho deve tratar o golfe como uma diversão, mas o que não o livra de cobranças: "O que a gente mais quer é que o Arthur se divirta. Se ganhar, ótimo. Mas, se perder, é necessário treinar mais", afirma o pai. Mas, para Arthur, administrar essa pressão parece ser fácil. Justamente porque golfe, para ele, é unir a seriedade dos torneios com a diversão que as crianças tendem a buscar nas brincadeiras.

Estadão
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