Aos 50, Slater compete com garotos do Brasil que nem eram nascidos quando ele já vencia no surfe
Vencedor em Pipeline, na primeira etapa do Mundial, surfista americano busca vitória inédita em Sunset no dia em que vira cinquentão; geração Brazilian Storm, com Ítalo, Filipinho e Medina, ainda estava no berço quando ele já festejava suas conquistas
O surfista Kelly Slater vai comemorar seu aniversário de 50 anos nesta sexta-feira de uma maneira que cansou de fazer nas últimas décadas: em cima de uma prancha e competindo contra os melhores do mundo. Na mesma data que ele festeja seu nascimento começará a janela de competição do Hurley Pro Sunset Beach, a segunda etapa do Circuito Mundial de Surfe.
O 11 vezes campeão mundial é um dos atletas mais vitoriosos da história, entre todas as modalidades esportivas, e considerado no surfe um GOAT, sigla em inglês para "O melhor de todos os tempos". Ele está escalado para a terceira bateria da primeira fase no masculino, e chega embalado pela vitória da etapa de estreia em Pipeline. Agora, em Sunset, também no Havaí, vai tentar ganhar em uma das poucas ondas do mundo onde nunca venceu.
Logo após brilhar na decisão em Pipe, ele deu a entender que poderia estar se despedindo das competições. Mas agora vestirá a lycra amarela de líder do ranking mundial e, mesmo chegando aos 50, tem mostrado que ainda consegue ser competitivo e que pode chegar mais longe nas etapas. "Dediquei minha vida para o que faço, amo o surfe mais do que tudo no mundo... Às vezes também odiei mais do que tudo no mundo", disse.
A primeira temporada de Slater foi em 1989, quando disputou um evento e apenas duas baterias. Estava em início de carreira. Mas em 1992 veio seu primeiro título mundial e desde então ele construiu uma carreira sólida para se tornar o melhor surfista que já existiu. Na época do primeiro título, inclusive, muitos dos brasileiros que brilham agora como Gabriel Medina, Italo Ferreira e Filipe Toledo não haviam sequer nascido. No circuito, há muitos surfistas reverenciados. Slater é uma lenda.
Em 2013, em sua estreia na elite da categoria, Filipinho enfrentou pela primeira vez na carreira o famoso surfista americano. Foi na França, na etapa de Hossegor, pelas quartas de final. "Era meu primeiro ano, minha primeira bateria contra ele na vida, e abri a bateria com uma nota de 9,27. Meu pai viajava comigo e na praia ele ficava assobiando para me ajudar no posicionamento no mar. O Kelly ficou incomodado com isso e eu depois fiz outra boa nota e acabei vencendo a bateria", conta, rindo.
"Ele saiu furioso da água, disse que não podia assobiar, mas depois pediu desculpas e reconheceu que tinha perdido a bateria. Como um campeão, ele me deu os parabéns e na época eu era um simples mortal lá, estavam o Kelly, Mick Fanning, Taj Burrow... Ele reconheceu meu talento e isso para mim foi algo que nunca vou esquecer", continuou Filipinho, que na época tinha apenas 18 anos e enfrentava um Slater que disputava mais um título na carreira e já tinha 11 no currículo.
Nos últimos anos, Slater sofreu com algumas lesões e sua última vitória no Circuito Mundial havia sido em 2016, em Teahupoo, no Taiti. Depois de um longo jejum, ele voltou a vencer em Pipeline, sua onda preferida, e mostrou que ainda pode ser competitivo apesar de ser muito mais velho que seus principais adversários. Mesmo com a carreira vitoriosa, o surfista sofreu altos e baixos e chegou a ficar um período sem competir ou mesmo tendo resultados ruins.
Anti-vacina
A vitória em Pipe neste ano também coloca outra questão para Slater. Faltam quatro etapas para a metade da temporada, quando apenas os 24 surfistas mais bem colocados no ranking continuarão na disputa do título. Só que depois do Havaí vem uma etapa em Portugal e depois duas na Austrália, onde existe a obrigatoriedade da comprovação de ter tomado a vacina contra a covid-19. Assumidamente anti-vacina, ele poderá perder eventos caso continue se recusando a tomar o imunizante. O próprio governo australiano já avisou que ele não poderá competir caso não mude de postura.
Etapa de Sunset Beach
A janela para a disputa da segunda etapa do Circuito Mundial de Surfe começa nesta sexta-feira e vai até 23 de fevereiro. No feminino o Brasil terá apenas Tatiana Weston-Webb. Já no masculino são oito surfistas representando o País: Italo Ferreira, Filipe Toledo, Caio Ibelli, Jadson André, Miguel Pupo, Samuel Pupo, Deivid Silva e João Chianca. Gabriel Medina, que está cuidando de sua saúde mental, e Yago Dora, machucado, são as ausências.
"A expectativa é boa. Comecei o ano com resultado melhor do que o ano passado, então traz uma confiança maior. Sunset é uma onda que encaixa no meu surfe, tenho treinado bastante lá e acho que isso pode ajudar a conquistar um bom resultado", comentou Filipinho, que no ano passado foi vice-campeão mundial.