Jejum de duas décadas causa pressão e "ferida" na Argentina
Depois de uma primeira fase em que teve momentos de brilho, mas longe de dar espetáculo, a Argentina começa uma etapa na Copa América em que não pode mais se dar ao luxo de errar. Apontada como favorita ao título, a equipe precisará fazer seu talento se sobrepor aos problemas físicos e defensivos que apareceram até agora – tudo para colocar fim a um jejum de 22 anos que incomoda, e muito, o futebol do país.
Tanto a imprensa quanto a torcida da Argentina admitem: levantar um troféu com a seleção principal é uma obsessão, ainda mais depois do vice da Copa do Mundo de 2014, quando o time esteve perto de bater a Alemanha na final. A última conquista da seleção principal foi em 1993, justamente na Copa América; depois disso, muitas equipes talentosas, mas que não conseguiram atender às expectativas.
Foram 12 torneios de primeiro nível com o time principal desde aquela taça de mais de 20 anos atrás. A Argentina foi eliminada uma vez na primeira fase, uma nas oitavas de final e seis nas quartas de final. Em outras quatro oportunidades, foi vice-campeã – e em três dessas finais, o algoz foi o Brasil. Veja a tabela completa abaixo:
Ano | Competição | Resultado | Eliminado por... |
1994 | Copa do Mundo | oitavas de final | Romênia |
1995 | Copa América | quartas de final | Brasil |
1997 | Copa América | quartas de final | Peru |
1998 | Copa do Mundo | quartas de final | Holanda |
2002 | Copa do Mundo | primeira fase | Suécia |
2004 | Copa América | vice-campeã | Brasil |
2005 | Copa das Confederações | vice-campeã | Brasil |
2006 | Copa do Mundo | quartas de final | Alemanha |
2007 | Copa América | vice-campeã | Brasil |
2010 | Copa do Mundo | quartas de final | Alemanha |
2011 | Copa América | quartas de final | Uruguai |
2014 | Copa do Mundo | vice-campeã | Alemanha |
De todas essas derrotas, a mais dolorida certamente foi a da final da Copa de 2014, classificada muitas vezes como uma "ferida aberta". Mas há outra que chega perto: cair nas quartas de final diante do Uruguai na última Copa América de 2011 foi um balde de água fria nos argentinos, que viam aquele torneio em casa como a oportunidade ideal de quebrar o jejum. Por isso e pelo último triunfo ter sido justamente nessa competição, a pressão é grande para cima dos comandados de Tata Martino – mesmo o técnico não concordando.
"Na verdade não acho que há uma situação assim. Parece que o rótulo das seleções já foi posto antes mesmo de começar a competição. Nosso primeiro objetivo era classificar, o segundo era terminar em primeiro do grupo, e nós cumprimos. Agora, o que tem de diferente é que não há lugar para erro. Numa dessas, te eliminam nos pênaltis", disse o treinador após vencer a Jamaica no último sábado.
O fato é que, Martino negando ou não, o clima para que a Argentina vença a Copa América é, sim, recheado de pressão – e a imprensa do país não se deu por satisfeita com as atuações da primeira fase, que alternaram momentos de incrível futebol com outros de apatia e desorganização defensiva. Para enfrentar a Colômbia às 20h30 desta sexta-feira, pelas quartas de final, em Viña del Mar, os jogadores precisarão "esquecer" que carregam um fardo de 22 anos nas costas.